A atração Jesus. Um trecho de Santa Teresa do Menino Jesus
“Ó Jesus, nem sequer é necessário dizer: ‘Atraindo-me, atrai as almas que amo!’ Esta simples palavra: ‘Atraí-me’, basta”
Organização de padre Maurizio Benzi

A vocação de Mateus, Caravaggio, igreja de São Luís dos Franceses, Roma
Mas o ponto principal é justamente esse: algumas vezes o apelo parece um pouco excessivamente inquieto, mais preocupado em alcançar um resultado do que colaborar à alegria dos que deveriam obtê-lo. Quase como se esta (a alegria, o fruto surpreendente da graça) não fosse operante, não fosse o próprio fim de tudo o que Jesus disse e fez (“Eu vos digo isso para que a minha alegria esteja em vós e vossa alegria seja plena” Jo 15, 11), não fosse o gratuito ponto de força de um pobre cristão junto ao pedido para que Cristo aja conosco (“... agindo com eles o Senhor” Mc 16, 20).
É como se fosse necessário acrescentar algum ulterior compromisso à recitação cotidiana das orações e à humilde observância dos dez mandamentos (“Pois este é o amor de Deus: observar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados” 1Jo 5, 3).
O texto da Lumen gentium é muito consolante e convincente – e portanto inevitavelmente operante – quando fala no número 31 das “condições ordinárias da vida familiar e social” como do lugar de onde os fiéis leigos são chamados “a manifestar Cristo aos outros, especialmente pelo testemunho de sua vida resplandecente em fé, esperança e caridade”.
O recente Compêndio do Catecismo da Igreja Católica segue na mesma direção, quando no número 97 explica “como colabora Maria com o desígnio divino da salvação”: “Pela graça de Deus, Maria ficou imune de todo pecado pessoal durante toda a sua existência; e depois quando no número 433, quase como um comentário à Lumen gentium 31 explica que “com sua vida conforme o Senhor Jesus os cristãos atraem os homens à fé no verdadeiro Deus, edificam a Igreja, informam o mundo com o espírito do Evangelho e apressam a vinda do Reino de Deus” (todos os grifados são nossos, aqui e acima).
Mas uma palavra ainda mais convincente, porque cheia de leveza e de candor da santidade chega-nos das últimas páginas do Manuscrito C da História de uma alma, no qual a pequena Teresa de Lisieux narra o cumprimento inesperado da sua vocação missionária. Publicamo-nas como a melhor contribuição à causa da nova evangelização, que a padroeira das missões, declarada doutora da Igreja pelo Papa João Paulo II, é certamente a mais ativa em perorar.
Organização de padre Maurizio Benzi
“Para as almas simples não convêm meios complicados. Como sou do número destas, uma manhã, durante a ação de graças, Jesus deu-me um meio simples de cumprir a minha missão. Fez-me compreender esta palavra do Cântico dos Cânticos: ‘atraí-me, nós correremos ao odor dos vossos perfumes’ (Ct 1, 4).
Ó Jesus, nem sequer é necessário dizer: ‘Atraindo-me, atrai as almas que amo!’ Esta simples palavra: ‘Atraí-me’, basta.
Senhor, eu compreendo. Quando uma alma se deixou cativar pelo odor inebriante dos vossos perfumes, não seria capaz de correr sozinha: todas as almas que ama são arrastadas atrás dela. Isto faz-se sem constrangimento, sem esforço, é uma conseqüência natural da sua atração para Vós.

Santa Teresa do Menino Jesus
[...]
“Minha Madre, julgo ser necessário dar-vos ainda algumas explicações sobre a passagem do Cântico dos Cânticos: ‘Atraí-me, nós correremos...’, porque o que com ela quis dizer parece-me pouco compreensível.
‘Ninguém, disse Jesus, pode vir a Mim, se o meu Pai, que Me enviou, o não atrair’. A seguir, em sublimes parábolas, e mesmo muitas vezes sem se servir deste meio tão familiar ao povo, Ele ensina-nos que basta bater para que nos abram, procurar para encontrar, e estender humildemente a mão para receber o que se pede... Diz ainda que tudo o que se pede a seu Pai em seu nome, Ele o concede. Foi por isso, certamente, que o Espírito Santo, antes do nascimento de Jesus, inspirou esta oração profética: ‘Atraí-me, nós correremos’.
O que significa, portanto, pedir para ser atraído, senão unir-se de maneira íntima com o objeto que cativa o coração? Se o fogo e o ferro tivessem entendimento, e se este último dissesse ao primeiro: ‘Atraí-me’, acaso não demonstraria querer identificar-se com o fogo, de maneira que ele o penetrasse e embebesse com a sua ardente substância até que parecesse fazer uma só coisa com ele?
Eis a minha oração, caríssima Madre. Peço a Jesus que me atraia para as chamas do seu amor, que me una tão estreitamente a Ele, que viva e atue em mim.
Estou certa de que quanto mais o fogo do amor abrasar o meu coração, tanto mais eu direi: ‘Atraí-me’; e mais as almas que se aproximarem de mim (pobre pedacinho de ferro inútil, se me afastasse do braseiro divino) correrão com ligeireza ao odor dos perfumes do seu Bem-amado, pois uma alma abrasada de amor não pode ficar inativa. Sem dúvida, como Santa Madalena, ela permanece aos pés de Jesus, e escuta a sua palavra doce e inflamada. Parecendo não dar nada, dá muito mais do que Marta, que se aflige com muitas coisas e que quereria que a sua irmã a imitasse. Não são, de modo nenhum, os trabalhos de Marta que Jesus censura; a esses trabalhos se submeteu humildemente a sua Mãe, durante a vida, pois tinha de preparar as refeições da Sagrada Família. Era apenas a inquietação da sua ardente hospedeira que Ele queria corrigir”.