Que o amor humilde do Santo Padre enriqueça a Igreja e a humanidade
do cardeal Zenon Grocholewski

Considero a data uma feliz oportunidade para expressar a gratidão ao Senhor pelo dom que fez à Igreja com esse Papa e para manifestar em torno da pessoa do Santo Padre o ser cum Petro de toda a Igreja, com também seu ser sub Petro, necessários à construção do Reino de Deus que se expande no mundo.
Ao dirigir a primeira saudação à Igreja e ao mundo, no dia de sua eleição, ele se apresentou como “um simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor”. Depois, na homilia de início do ministério petrino, falou de si como “frágil servidor de Deus”. Essas imagens nos abrem a porta de sua consciência para nos deixar vislumbrar sua atitude interior diante de Deus e da Igreja. Elas, de um lado, comunicam o sentir-se pequeno diante de Deus e da missão que lhe foi confiada. É uma postura de grande alcance. Sabemos muito bem, de fato, que quanto mais alguém se esvazia de si mesmo mais se torna capaz de ser preenchido por Deus, de ser instrumento eficaz nas mãos de Deus. Por outro lado, as citadas palavras indicam um forte sentimento de dedicação, até mesmo cheio de esforço e realizado ocultamente, além de uma total disponibilidade. De resto, essa sempre foi a sua maneira de se portar no longo serviço como estudioso, docente, teólogo, pastor e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, realizado com empenho, elevada competência e cristalino espírito de serviço à Igreja. Como membro da mencionada Congregação, tive a honra e o prazer de colaborar com o cardeal Ratzinger durante alguns anos, vendo essas qualidades em ação. Seu modo de ser trabalhador e servidor sempre foi um simples e apaixonado serviço à verdade que deveria ser oferecida ao homem para livrá-lo da idolatria do relativismo.
Dois anos atrás, o atual Pontífice foi chamado pelo Senhor ao supremo pontificado. Ao assumir essa “tarefa inaudita” – como ele mesmo a definiu na homilia de início do pontificado –, configurou seu ministério nas imagens do pastor e do pescador, focalizando seu valor no serviço ao amor de Deus pela humanidade e ao amor a Deus e ao próximo. Assim, o amor é o fio de ouro que percorre as diversas expressões do ministério de Bento XVI, hoje “pastor e pescador” na vinha do Senhor. “Apascentar”, disse, “significa amar [...]. Amar significa: dar às ovelhas o verdadeiro bem, o alimento da verdade de Deus, da palavra de Deus, o alimento da sua presença, que ele nos oferece no Santíssimo Sacramento. [...] Na missão de pescador de homens, no seguimento de Cristo, é necessário conduzir os homens para fora do mar salgado de todas as alienações rumo à terra da vida, rumo à luz de Deus. [...] Nós existimos para mostrar Deus aos homens. [...] Só quando encontramos em Cristo o Deus vivo, conhecemos o que é a vida. [...] A tarefa do pastor, do pescador de homens muitas vezes pode parecer cansativa. Mas é bela e grande, porque definitivamente é um serviço à alegria, à alegria de Deus que quer entrar no mundo”.
O amor à verdade de Deus que deve ser doado ao homem de hoje não é concebido por Bento XVI como tarefa solitária do sucessor de Pedro, mas como tarefa de toda a Igreja. Por isso, a escolha do tema de sua primeira carta encíclica recaiu justamente sobre o amor cristão a partir do coração pulsante da fé cristã: Deus caritas est. O desejo do Papa, com a encíclica, foi continuar a “falar do amor com que Deus nos cumula e que deve ser comunicado aos outros por nós” (nº 1). Do amor de Deus, que o homem pode experimentar voltando o olhar para o “lado trespassado de Cristo” (nº 12), jorra como água reparadora o amor ao próximo, que “é um dever antes de tudo para cada um dos fiéis, mas o é também para a comunidade eclesial inteira” (nº 20). Portanto, sublinha o Papa, “toda a atividade da Igreja é manifestação de um amor que procura o bem integral do homem: procura a sua evangelização por meio da Palavra e dos Sacramentos, empreendimento este muitas vezes heróico nas suas realizações históricas; e procura a sua promoção nos vários âmbitos da vida e da atividade humana. Portanto, é amor o serviço que a Igreja exerce para acorrer constantemente aos sofrimentos e às necessidades, mesmo materiais, dos homens” (nº 19).

Bento XVI com as crianças da Primeira Comunhão na praça de São Pedro, em 15 de outubro de 2005
Penso que o caminho do amor – de Deus, a Deus e ao próximo – no qual Bento XVI está guiando a Igreja como “pastor e pescador” é o dom mais belo ao mundo inteiro, que se esforça por ter um coração. Portanto, com espírito cheio de gratidão, estou contente por exprimir ao Santo Padre em primeiro lugar os votos de que seu ministério petrino, exercido com humildade e amor, como também a serviço do amor, possa enriquecer o mundo atual com os valores dos quais dependem a vida na Verdade e o verdadeiro progresso da humanidade.