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ÁFRICA
Extraído do número 01 - 2008

A narração do pároco de uma das áreas mais pobres e populosas de Nairóbi

Dias de morte e chamas na missão de Kariobangi



de Paulino Twesigye Mondo


A narração do padre Paulino Twesigye Mondo, missionário comboniano, pároco de Santa Trindade em Kariobangi, uma das áreas mais pobres e populosas de Nairóbi. O seu testemunho foi ouvido pelo superior geral dos Combonianos, padre Teresino Serra que na metade de janeiro visitou as comunidades missionárias presentes em Kariobangi e nos slum ou favelas da região, cenários dos primeiros combates explosivos logo depois das eleições presidenciais. Os missionários combonianos estão aqui desde 1975. Atualmente cinco deles atuam nos slum de Nairóbi.

Combates pelas ruas de Kisumu

Combates pelas ruas de Kisumu

Três dias depois do anúncio dos resultados definitivos que proclamavam vencedor o presidente Kibaki, desencadeou-se o inferno. Apenas uma hora depois a disputa não era mais entre o PNU (Party of National Unity), guiado por Kibaki, e o ODM (Orange Democratic Party), o partido da oposição liderado por Raila Odinga, mas entre os grupos étnicos luo e kikuyu: os luo armados de pedras e tochas, os kikuyu de panga (facão) e rungu (cassetete). No dia 1º de janeiro nos slum de Nairóbi – Korogocho, Gitathuru, Kanyama, Githembe, Roundabout, Kamunde road, Huruma, Kiamako, Ghetto, Japost – já se contavam mais de 70 mortos, 128 casas incendiadas, 123 feridos por armas de fogo, por facadas e por pedras. Centenas de pessoas roubadas. Nesta área, em poucas horas foram incendiados sete matatu (os mini-ônibus da empresa pública de transportes).
Desde então a sobrevivência é a regra. Muitos aproveitam a tensão geral para roubar e saquear. Vêem-se jovens reunidos em grupos espalhados, cada um falando seu próprio dialeto. As facções usam palavras de ordem com qualquer um que encontram e se não houver a resposta certa significa ser roubados ou mortos. Centenas de barracas foram incendiadas. Restam apenas as estruturas e em alguns casos dentro estão os cadáveres. Foram lançadas tantas bombas incendiárias com gasolina e querosene que se pergunta, de onde esta gente, que não têm nada, e é a mesma das eleições anteriores, tenha conseguido o necessário para construí-las.
Desde o início das violências nunca abandonamos esta área. Em Korogocho a missão dos coirmãos padre Daniele Moschetti e Paolo Latorre viveu momentos dramáticos. Nós ficamos todos compartilhando o pouco que temos: comida, água, remédios, cobertas e reparo. Como comunidade, junto com outros pastores da região, tentamos uma mediação entre os vários grupos, convocando os líderes das outras confissões religiosas para realizar momentos de encontro e de oração ecumênicas e para encaminhar iniciativas comuns também pedimos ajuda à Caritas e às ONGs. A primeira urgência é a falta de alimentos e remédios. Agora temos de enfrentar uma nova: a onda dos “novos miseráveis”. Cerca de três mil famílias sem teto acamparam diante dos portões das Missões da Caridade. Em Kariobangi há refugiados internos; em Kibera, a maior favela do Quênia, há 22.500 pessoas que foram despejadas e seis mil nas áreas limítrofes. Eles precisam de tudo. As mulheres e crianças são os mais indefesos, porque não podem escapar para longe. Os homens, jovens e adultos, transformam-se em vigilantes e passam as noites acordados esperando o inimigo invisível.


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