Home > Arquivo > 06/07 - 2010 > A sua paciência nos espera
NOVA ET VETERA
Extraído do número 06/07 - 2010

Arquivo de 30Dias

A sua paciência nos espera


“O Senhor é um pai que espera no portão. Que nos vê quando ainda estamos longe, e se enternece, e, correndo, vem se atirar ao nosso pescoço e nos beijar com ternura... Nosso pecado, então, transforma-se quase numa jóia que podemos lhe dar de presente para prover-lhe a consolação de perdoar... Agimos como senhores, quando damos jóias de presente. E não é derrota, mas uma vitória cheia de alegria deixar Deus vencer!”


de Stefania Falasca


Dom Albino Luciani, quando era bispo 
de Vitório Vêneto

Dom Albino Luciani, quando era bispo de Vitório Vêneto

Às vezes, não há dúvidas. O que determina as circunstâncias ou é a Providência ou... é a Providência. É o que se pode dizer a respeito do santo confessor de Roma, o padre jesuíta Felice Cappello, e do papa Luciani. Eles simplesmente foram batizados na mesma fonte batismal da paróquia de Canale, simplesmente eram parentes distantes, e, como se não bastasse, um deles (padre Cappello) simplesmente espelhava para o outro o caminho que este gostaria de seguir. Entrem na igreja paroquial de Agordo; se vocês pedirem ao pároco, monsenhor Lino Mottes, que conheceu bem a ambos, ele os conduzirá para um lado menos iluminado da igreja: “Aí está, esse era o seu confessionário. Quando padre Felice vinha a Agordo, estava sempre aí”. Depois indicará um outro, bem em frente, perto da imagem de Nossa Senhora: “E esse era de Albino Luciani”. A mão do “homem lá de cima” estabelecera dispô-los dessa forma durante certo período. Um na frente do outro. No confessionário. Vizinhos de frente na administração do sacramento da reconciliação. Eram os anos de 1936, 1937. Naquela época, o futuro João Paulo I era um padre recém-ordenado, um sacerdote novato que o irmão de padre Felice, monsenhor Luigi Cappello, então vigário-geral da igreja de Santa Maria Nascente de Agordo, quisera a todo custo como assistente em sua paróquia. Nos meses de verão daqueles anos, padre Felice subia a Agordo para passar as férias. Já era um canonista de renome e professor extremamente respeitado da Gregoriana, e sua fama de santo confessor também já se espalhara. Assim, mesmo quando estava em Agordo, acabava por repetir-se todos os dias o que se repetia diariamente na igreja de Santo Inácio, em Roma. Nem é preciso falar da fila que se formava na frente do seu confessionário e de como aquele cantinho da igreja se transformava numa fonte de água fresca para quem tinha sede. Ele confessava em poucos minutos. E dizia poucas palavras. Sempre as mesmas. E então vidas murchas e corações envelhecidos descobriam que sempre se pode recomeçar. E voltavam outras vezes. Encorajadas, confiantes, voltavam. Luciani, com bondade que não era menor, também atendia às suas ovelhas. Mas, mais que ovelhas perdidas, quem se ajoelhava em seu confessionário eram crianças barulhentas e irritantes da primeira comunhão, jovenzinhos vivos, bagunceiros e impacientes. Assim, não eram poucas as vezes em que, revestindo-se de toda a paciência de Nosso Senhor, era obrigado a sair do confessionário para acabar com a bagunça e pedir silêncio. Depois, quando acabavam as férias e padre Felice voltava para Roma, todas as pessoas da outra fila vinham de boa vontade engrossar a fila do padre assistente Albino. Assim, ele ouviu muitas vezes esta recomendação de padre Felice: “Sermo brevis et rudis. Nos pareceres e nas decisões, todavia, nunca se deve usar de severidade. O Senhor não a quer. Deve-se sempre dar uma solução que permita às almas respirarem”. O próprio Luciani diria o quanto o marcou a proximidade desse grande conhecedor da reta doutrina e dos princípios inflexíveis que, no confessionário, deixava tudo nas mãos da graça de Deus, e o quanto esse período lhe foi importante. Aconteceu a 29 de junho de 1978, exatamente dois meses antes de subir ao trono de Pedro. A última vez em que voltou a Agordo. Durante a homilia na igreja da qual fora padre assistente, lembrou aqueles anos como os mais bonitos da sua vida: “Confessei tanto, como confessei!...”. Na sua vida inteira, se há uma coisa que tenha realmente repetido centenas de vezes, é justamente isto: “Como estão errados, como estão errados aqueles que não têm esperança! Judas cometeu um grave despropósito, coitado, no dia em que vendeu Cristo por trinta dinheiros, mas cometeu outro muito mais grave quando pensou que seu pecado fosse grande demais para ser perdoado. Nenhum pecado é grande demais, nenhum! Nenhum é maior que a Sua misericórdia sem fim!”.


“Pecadores todos somos”(João Paulo I)
Subindo a Agordo para as férias, padre Cappello passava por Pádua para visitar o capuchinho Leopoldo Mandic, o santo confessor que em 1983 foi elevado às honras dos altares. Padre Cappello ia se ajoelhar também diante do pequeno frade de origem dálmata, saboreando como penitente a mesma divina misericórdia que, por sua vez, doava sem descanso em seus confessionários. Como padre Cappello, Luciani também tivera a oportunidade de se confessar com Mandic. “Foi em março de 1928”, lembra Edoardo, irmão de Luciani. “Albino era pequeno, estava ainda no seminário menor de Feltre, e padre Leopoldo foi visitar o seminário em companhia do bispo. Ouviu diversas confissões, entre as quais a de meu irmão. Albino sempre conservou uma lembrança vivíssima daquele encontro, tanto que carregou para sempre consigo a imagenzinha de padre Leopoldo”. Sua irmã, Antonia, lembra também desse episódio, que Albino lhe contou: “Padre Leopoldo o confessou, pegou depois seu rosto nas mãos e lhe disse: ‘Fique tranquilo, e siga seu caminho’”. Em 30 de maio de 1976, quando era patriarca de Veneza, Luciani quis celebrar a missa na igreja dos Capuchinhos em Pádua, bem ao lado do confessionário do fradinho. Toda a homilia foi uma lembrança comovida de padre Leopoldo e da maneira como confessava. Luciani disse: “Pecadores todos somos, padre Leopoldo sabia disso muito bem. É preciso tomar consciência dessa nossa triste realidade. Ninguém pode evitar por muito tempo as faltas, pequenas ou grandes. ‘Mas’, como dizia São Francisco de Sales, ‘se você tem um burrinho, e na estrada ele desaba no cascalho, o que deve fazer? Não vai cutucar suas costelas com o bastão, coitado, ele já sofreu bastante. É preciso que você o pegue pelo cabresto e lhe diga: vem, vem, de volta para a estrada. É hora de retomar o caminho, teremos mais atenção na próxima vez’. Esse é o sistema, e padre Leopoldo o aplicou plenamente. Um sacerdote, amigo meu, que se confessava com ele, disse: ‘Padre, o senhor é generoso demais. Gosto de me confessar com o senhor, mas o acho generoso demais’. E padre Leopoldo: ‘Mas quem é que foi generoso, meu filho? Foi o Senhor que foi generoso; eu não morri pelos pecados, foi o Senhor que morreu pelos pecados. Mais generoso do que isso, com o ladrão, com os outros, como é que poderia ser!’”. E Luciani continuou, dizendo: “Jesus, por um lado, entra em choque com o pecado, ‘vítima de expiação pelos pecados’, por outro lado não entra em choque, mas encontra os pecadores. Abram as páginas do Evangelho, ele entra em choque com o pecado, diz João Batista: ‘Eis o cordeiro de Deus, que tira os pecados’. Leiam São Paulo: ‘Morreu pelos pecados’. Nada de pecados! O Senhor não quer o pecado. Por outro lado, porém, quanta bondade! Quanta misericórdia para com os pecadores! Eu me comovo quando penso que Paulo VI fez beato a padre Leopoldo; mas o primeiro a ser canonizado, o primeiro homem proclamado santo diante de todos, foi um ladrão. Na cruz, Jesus disse: ‘Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso’. Disse isso a um assassino, a um ladrão!... E quanta bondade! Como eu dizia, para com os pecadores! Quando levaram à sua presença a adúltera: ‘Mulher, ninguém te condenou?’. ‘Ninguém, Senhor’. ‘Mulher, nem eu também te condeno. Vai em paz e procura não pecar mais’”. E, voltando a padre Leopoldo, disse Luciani: “Ele copiou fielmente esse aspecto de Jesus: como Jesus, também tinha medo do pecado, chorava pelo pecado, mas era exatamente o contrário com os pecadores. Alguém uma vez lhe disse: ‘Padre, o senhor confessa há tantos anos, já ouviu de tudo, o pecado já não o impressiona mais’. ‘O que o senhor está dizendo? Eu a todo momento tremo pensando que os homens põem em risco sua saúde eterna por bobagens, por coisas fúteis’. Ele tremia, chorava pelo pecado. Mas acolhia o pecador como verdadeiro irmão, como amigo, por isso não era pesado confessar-se com ele. Certa vez chegou uma pessoa: fazia vinte anos que não se confessava. Disse seus pecados. Quando acabou, padre Leopoldo se levantou, pegou suas mãos e lhe agradeceu: ‘Obrigado, obrigado por ter vindo a mim, por ter aceito que fosse eu que acolhesse o seu arrependimento depois de tantos anos’. Era ele que agradecia, entendem!... Eis o que foi, o que é padre Leopoldo para nós, o espelho da bondade do Senhor”. Luciani se referia constantemente a essa bondade. E sempre remeteria a ela. Mesmo nas poucas audiências gerais que fez na sé de Pedro como vigário de Cristo. “Quanta bondade, quanta misericórdia é preciso ter, mesmo aqueles que erram...”. Foi assim naquele 6 de setembro de 1978, sua primeira audiência geral. Quando fez essa referência à humildade, todos perceberam que ela nascia da consciência de ser um mísero pecador e da experiência que ele vivia do perdão: “Limito-me a recomendar a virtude, tão cara ao Senhor, que disse: ‘Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração’. Corro o risco de dizer um despropósito, mas o digo: o Senhor ama tanto a humildade que às vezes permite pecados graves. Por quê? Porque aqueles que cometeram esses pecados, depois de arrependidos fiquem humildes. Não têm mais vontade de se considerar meio anjos quando sabem ter cometido faltas graves. O Senhor recomendou tanto: sejam humildes. Mesmo que tenham feito grandes coisas, digam: ‘Somos servos inúteis’”.


Dom Albino Luciani ministra a comunhão a alguns coroinhas durante a primeira missa como bispo em sua cidade natal, em 1959

Dom Albino Luciani ministra a comunhão a alguns coroinhas durante a primeira missa como bispo em sua cidade natal, em 1959

“Que seria de mim, pobre coitado, se não houvesse a confissão? ”(Santo Cura d’Ars)
Entre os confessores de Albino Luciani, são lembrados em particular alguns monges da Cartuxa de Vedana, mosteiro que gostava de frequentar desde os tempos de Beluno, frequência que não deixou de lado durante todo o período em que foi bispo de Vitório Vêneto. E se nos trinta e três dias de pontificado manteve como seu confessor o jesuíta Paolo Dezza, que fora também confessor de Paulo VI, quando estava em Veneza ia com frequência ajoelhar-se no confessionário do padre Leandro Tiveron, jesuíta também. Modesto e reservado, padre Tiveron pronunciou poucas palavras a respeito de seu ilustre penitente, depois de sua morte: “Luciani foi um exemplo de coragem e confiança indestrutível em Deus, de humildade unida a uma grande fortaleza de espírito”. São palavras que remetem uma vez mais à história humana boa, simples e misteriosa que Luciani encontrara quando criança na fé de sua mãe, de padre Filippo Carli, seu pároco em Canale, amigo e coetâneo de padre Cappello. Assim, lembrou tantas vezes as orações que aprendeu com a mãe e sua infância em Canale, os episódios daquela piedade humaníssima, de devoção, de amor por Jesus que vira e vivera quando criança. A verdade é que devia muito a seu pároco. Devia a ele ter-se tornado padre. Dele aprendera que, para um padre, não há coisa maior e mais frutuosa que batizar, dar a eucaristia, absolver os pecados. In persona Christi. E dele aprendera também toda a sinceridade e a humildade na confissão. “Vejam”, disse Luciani uma vez num encontro durante a Quaresma, “que o Senhor nos deu a confissão como instrumento da Sua misericórdia, e portanto de paz para nós. Não é preciso angustiar-se, ter medos demais. E não é preciso remoer os pecados cometidos. Vocês os confessaram? Pronto, não pensem mais neles. É claro que a confissão deve ser simples, límpida. Alguns, quando vão se confessar, fazem um exame de consciência um pouco complicado, pois pensam: tenho de me sair bem. ‘Esse não é o lugar para se sair bem!’, dizia sempre meu pároco. Então, não é simples: é melhor falar claramente, com poucas palavras, o que se tem a dizer. O que houve, com brevidade, com humildade, sem rodeios... Mais que entrar em exames de consciência muito complicados, é importante pedir ao Senhor que nos faça sentir dor pelos pecados”. A paciência para explicar com clareza as fórmulas do catecismo, com exemplos eficazes que todos pudessem compreender, sempre foi uma prerrogativa de Luciani. “Uma vez, durante uma aula de catecismo em Canale”, lembra a irmã, Antonia, “ouvi Albino explicar a importância da confissão com exemplos contados pelo Cura d’Ars, que repetia sempre: ‘Que seria de mim, pobre coitado, se não houvesse a confissão? Que seria de nós?’. E recomendava que as pessoas se confessassem com frequência. ‘As mães’, dizia Albino, ‘por acaso não trocam sempre suas crianças? A alma também é assim: nós sempre temos faltas e temos sempre de nos lavar, não uma vez ou duas por ano, mas devemos nos confessar com frequência, se for possível’”. Indicava explicitamente a seus sacerdotes: “Sejamos fiéis ao que diz o código: Frequenter. Vários sínodos dizem: toda semana. Procurem ser fiéis. Um pouco de esforço, mas depois a pessoa fica melhor, fica mais contente, retoma as forças. O arrependimento contínuo, a humilhação contínua também é útil e salutar”.
Os anos do patriarcado de Veneza foram os mais difíceis para Albino Luciani. E foi lá, em Veneza, que teve de se dar conta com amargura do quanto aquela herança cristã tão cara estava cada vez mais longe do horizonte da vida. “Ouve-se cada vez com mais frequência: ‘O pecado não existe’. Essa maneira de pensar está realmente na última moda, e assusta”, escrevia numa carta aos párocos, continuando: “Há sacerdotes que não acreditam mais na confissão... Pecados sempre existiram, sempre choveram – não há muito o que dizer –, até mesmo na Idade Média cristã. Mas as pessoas sabiam que pecavam, rompiam a lei até mesmo com pecados graves, mas continuavam a respeitar a lei rompida e nem sonhavam em negar o pecado. Hoje, no entanto, dizem que não existem leis, muito menos pecados... É isso que assusta”. Em 1974, por ocasião dos exercícios espirituais para o clero, disse: “Não tenho vontade nenhuma de ser heresiólogo; mas às vezes tenho uma forte tentação de apontar sinais de quietismo e semiquietismo, de pelagianismo e semipelagianismo em escritos e discursos que ou descrevem o trabalho pastoral como se tudo dependesse dos homens ou falam de nós, pobres homens, como se não tivéssemos mais de nos preocupar com o pecado...”. E respondeu decidido aos sacerdotes que lamentavam uma queda no número de confissões: “O pecado mortal saqueia nossas almas. Rouba da alma a graça. Vocês estudaram o tratado De gratia e conhecem os efeitos da graça na alma... A confissão é o banco a partir do qual se distribui o sangue de Cristo, é uma cruz vermelha em que se consertam os ossos quebrados pelo pecado. Uma coisa portentosa... Mas repito, como é que as pessoas podem se confessar se vocês não lhes explicarem claramente o exame de consciência, a dor, o propósito e as outras coisas? E repito, sobretudo: quem é que vai se confessar se vocês não disserem o que é a graça de Deus e o quanto é preciosa?”.


Padre Leopoldo Mandic em seu confessionário

Padre Leopoldo Mandic em seu confessionário

“Da quod iubes, iube quod vis” (Santo Agostinho)
Em janeiro de 1965, Albino Luciani, bispo de Vitório Vêneto, pregou exercícios espirituais a sacerdotes de várias dioceses do Vêneto. Naqueles encontros, escolheu este tema: Historia salutis. Tomou como ponto de partida a parábola do Bom Samaritano: “O Bom Samaritano é Jesus”, disse, “o viajante desafortunado somos nós”. E começou com estas palavras: “Historia salutis significa isto: o Senhor corre atrás dos homens”. Foi um sucesso tão grande que o texto daqueles encontros foi depois publicado. Algumas partes se referem à graça. O Concílio de Trento, explica Luciani, diz: “‘Ninguém ouse aceitar a afirmação temerária, refutada também pelos Padres, de que os mandamentos de Deus são impossíveis de observar. Deus não ordena coisas impossíveis, mas, quando ordena, exorta a fazer o que for possível e a pedir-lhe aquilo de que não se for capaz, ao mesmo tempo em que ajuda a sê-lo’. Dizia Santo Agostinho: ‘Agnosce ergo gratiam eius cui debes quod non commisisti’, ‘reconhece, pois, a graça dAquele a quem deves o fato de não cometeres certos pecados’, e continuava: ‘Nullum est peccatum quod fecit homo, quod non possit facere et alter homo, si desit rector a quo factus est homo’, ‘não existe pecado cometido por homem que outro homem não possa cometer, se faltar a ajuda dAquele que fez o homem’”. Luciani então comentava: “O Paraíso é um pouco alto e nós custamos a chegar lá. Nós estamos na situação de uma menininha que viu as cerejas mas não as alcança; é preciso então que venha o pai, pegue-a nos braços e diga: pra cima, pequena, pra cima! Aí sim, quando ele a levanta, é que ela pode pegar e comer as cerejas. Nós somos assim: o Paraíso nos atrai, mas é alto demais para as nossas pobres forças. Ai de nós se o Senhor não vier com sua graça! O próprio Santo Agostinho repetia uma oração com extrema freqüência: ‘Da, Domine, quod iubes, et iube quod vis’. Senhor, eu não alcanço, dá-me fazer o que me ordenas; ordena-me o que quiseres, mas só depois de me dares a graça de fazê-lo. Tudo é possível com a graça de Deus. Precisamos da Sua graça. Portanto, deixem que agora lhes diga uma palavra sobre a oração”. E contou este episódio: “Padre McNabb, famoso dominicano que pregava em Londres, dizia: ‘Quando estou no confessionário, eu me revisto realmente da paciência do Senhor. Seja o que for que me digam, nunca me sinto agitado: mesmo que sejam pecados horríveis. Digo: o Senhor perdoará, esta pessoa veio aqui, humilhou-se... Coragem, coragem... Há apenas uma exceção: quando chega alguém que diz ter negligenciado a oração. ‘Mas não rezou nenhum dia, mesmo?’. ‘Não, padre, não rezei’. ‘Ah’, ele diz, ‘é nessa hora que se pudesse eu passaria a mão pela janelinha e lhe daria com vontade umas belas bofetadas!’”. “Como é possível neste mundo”, retomou Luciani, “inclinados para o mal como somos, fracos como somos, não rezar? Não pedir a graça, a ajuda de Deus? Isso significa não ter mesmo conhecimento da realidade, não entender realmente nada... Não dá nem para seguir em frente sem a oração, sem a confiança na graça de Deus. ‘Quero que peçais’, disse o próprio Jesus, ‘com insistência’ até... ‘Quero que peçais.’ ‘Basta que peçais, basta terdes confiança, esperança’. Omnia possibilia sunt credenti. ‘De minha parte tudo é possível, basta que tu tenhas fé’. Quantas vezes... Espero em Vós, porque sois infinitamente bom, reza o Ato de Esperança, ou seja: espero com certeza. ‘Esperar com certeza’, dizia Dante. A esperança não é facultativa, é obrigatória...”.
“Mas, nesse meio tempo, é a Sua paciência que nos espera”, retomou enfim Luciani. E, voltando ao início da Historia salutis: “Porque, vejam, é Ele que quer nos encontrar, e não desanima mesmo que fujamos: ‘Quero tentar de novo, uma, dez, mil vezes...’. Alguns pecadores não gostariam de tê-lo em sua casa. Pegariam até uma arma para matá-lo e não ouvi-lo mais falar. Não importa, Ele espera. Sempre. E nunca é tarde demais. É assim que ele é, é disso que ele é feito... é Pai. Um pai que espera no portão. Que nos vê quando ainda estamos longe, e se enternece, e, correndo, vem se atirar ao nosso pescoço e nos beijar com ternura... Nosso pecado, então, transforma-se quase numa jóia que podemos lhe dar de presente para prover-lhe a consolação de perdoar... Agimos como senhores, quando damos jóias de presente. E não é derrota, mas uma vitória cheia de alegria deixar Deus vencer!”.


Italiano Español English Français Deutsch