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SANTA SÉ
Extraído do número 01/02 - 2011

ANUÁRIO PONTIFICIO
 

Uma janela sobre a Igreja e sobre o mundo.

O sentido de uma estatística


Por ocasião da publicação do Anuário Pontifício de 2011, o cardeal decano do Sagrado Colégio escreveu para nós este artigo no qual fala sobre vários aspectos da presença da Igreja no mundo, desde o número de pastores e de fiéis à missão da Cúria Romana


do cardeal Angelo Sodano


Bento XVI com o cardeal Sodano em 20 de dezembro de 2010. O cardeal Sodano, há 50 anos a serviço da Santa Sé, foi Secretário de Estado de 29 de junho de 1991 a 2 de abril de 2005, com João Paulo II, e de 21 de abril de 2005 a 15 de setembro de 2006 com o atual Pontífice [© Osservatore Romano]

Bento XVI com o cardeal Sodano em 20 de dezembro de 2010. O cardeal Sodano, há 50 anos a serviço da Santa Sé, foi Secretário de Estado de 29 de junho de 1991 a 2 de abril de 2005, com João Paulo II, e de 21 de abril de 2005 a 15 de setembro de 2006 com o atual Pontífice [© Osservatore Romano]

 

“Creio na Santa Igreja Católica”: é a profissão de fé que o cristão continuamente repete com as palavras do Símbolo apostólico.
Como se sabe, ‘símbolo’ é um termo grego que indica uma marca, um sinal de reconhecimento. Na Igreja primitiva tal documento nasceu justamente para resumir a mensagem de Cristo transmitida pelos apóstolos e assim oferecer aos cristãos uma marca de reconhecimento de sua identidade.
É também significativo que esta fórmula de fé, em todos os seus doze artigos, tenha sido definitivamente codificada na Igreja de Roma. No nono artigo, desde o final do século III, vemos afirmada de modo explícito a fé na Igreja que é “una, santa, católica e apostólica”. Também a catolicidade da Igreja já era bem sentida como uma sua nota essencial.
Passaram-se dois mil anos desde que o Senhor ressuscitado passou o mandato missionário universal à Sua Igreja e esta, com alternadas vicissitudes, difundiu-se no mundo e chegou até nós, sustentada pelo força vivificante do Seu Santo Espírito.
Hoje, mesmo os laicistas mais obstinados não podem ignorar a existência desta realidade eclesial nem podem não reconhecer a sua obra transformadora na vida dos povos. É suficiente dar uma olhada breve à presença da Igreja no mundo, às pessoas e às comunidades que a compõem, como às instituições que desta procedem.

O Anuário Pontifício
Um instrumento válido para conhecer os vários aspectos da presença da Igreja no mundo é dado pelo Anuário Pontifício que, desde a metade de 1800 até hoje, é publicado anualmente pela Santa Sé.
Em 19 de fevereiro passado, o cardeal Tarcisio Bertone, com os seus colaboradores da Secretaria de Estado, apresentou ao Papa Bento XVI o Anuário Pontifício 2011. Assim, dá-se continuidade a uma publicação que remonta ao Papa Pio IX (1846-1878), mesmo se na época apresentava um título mais limitado: A hierarquia católica e a família pontifícia.
Em várias bibliotecas ainda se pode consultar a sucessão de volumes publicados desde a sua origem até hoje. É uma pesquisa sempre confortante sobre a história da Igreja e da sua progressiva difusão no mundo inteiro.
Também, um precioso complemento ao Anuário Pontifício é o livro publicado contemporaneamente todos os anos pela Secretaria de Estado, com o título: Annuarium statisticum Ecclesiae. No volume, os dados estatísticos são examinados e confrontados com maior atenção, nação por nação, continente por continente, com um olhar comparativo sobre as várias formas de apostolado existentes na Igreja.

Os católicos no mundo
Segundo os últimos dados disponíveis, atualmente o número de católicos batizados é de cerca 1,181 bilhão em uma população mundial de 6,698 bilhões de habitantes.
Portanto o católicos em base ao último Annuarium statisticum Ecclesiae chegam a 17,4% da população mundial. A maior concentração de católicos registra-se nas Américas com 63,1% da população. Na Europa os católicos são 40%. Porém, a presença de cristãos na Europa é muito mais alta se considerarmos também os irmãos das Igrejas Orientais e as várias comunidades nascidas com a Reforma.
Na Oceania a presença dos católicos corresponde a 26,2%, na África de 17,8% e na Ásia de 3,1%. E é justamente a Ásia (em cujos limites engloba-se também o Oriente Médio) a constituir o grande desafio para a futura obra evangelizadora da Igreja. Já em 1998 o saudoso papa João Paulo II tinha-nos convidado a refletir sobre este tema convocando no Vaticano um Sínodo Especial sobre a Ásia.
Tive também a alegria de participar a esta Assembleia sinodal e recordo bem o compromisso comum que na época se assumiu para trabalhar neste sentido. De resto, a Ásia é o continente mais extenso e populoso. Foi lá que nasceu o cristianismo. Foi lá que o Evangelho de Cristo conheceu o seu primeiro anúncio. Portanto é compreensível o compromisso para que entre aqueles povos o fermento evangélico continue a permear aquelas culturas, orientando-as a Cristo.

Pastores e fiéis
Como todos os anos, o Anuário Pontifício 2011 apresenta também os números relativos aos Pastores, chamados a guiar nos dias de hoje a Santa Igreja de Cristo.
Obviamente, em primeiro lugar é colocado o Sucessor de Pedro, o Papa Bento XVI, colocado pelo Espírito Santo para presidir a comunidade católica nesta importante hora da história, no início do Terceiro Milênio cristão. Ao lado do Papa figura em primeiro lugar o Colégio Cardinalício, chamado a coadjuvar o Bispo de Roma na sua mais vasta missão de Pastor da Igreja universal.
Uma longa lista de todas as sedes episcopais existentes no mundo nos introduz depois a conhecer a vida concreta de cada uma das Igrejas particulares espalhadas nos cinco continentes desde as de época apostólica às mais recentes, constituídas no decorrer de 2010.
O Anuário Pontifício de 2011 informa-nos que atualmente as circunscrições eclesiásticas chegam a quase 3 mil (exatamente a 2.956). Porém o número de bispos é superior, porque ao lado do bispo que guia cada uma das dioceses, há também o bispo coadjutor, um auxiliar e um ou mais bispos eméritos. O número total dos bispos chega assim a 5.065. Em cada diocese há também um adequado número de sacerdotes como providenciais cooperadores do bispo. Todos juntos (diocesanos e religiosos) superam hoje 400 mil (exatamente 410.593). Estes dados estatísticos nos fazem intuir a extrema importância do seu trabalho minucioso no vasto campo de ação da Igreja, em todas as realidades humanas. Muitas vezes estes são os soldados desconhecidos do Reino de Deus.
Junto com a lista das dioceses, o Anuário Pontifício apresenta-nos também a lista das várias Conferências Episcopais nacionais e internacionais e enfim apresenta-nos o importante organismo do Sínodo dos Bispos, instituído pelo Papa Paulo VI para favorecer uma comunhão mais estreita com o romano Pontífice.

A Cúria Romana
Uma rápida olhada ao Anuário Pontifício permite também conhecer mais de perto o instrumento operante do qual o Papa serve-se cotidianamente para o desenvolvimento da sua missão. Sinto-me na obrigação de evidenciar este particular aspecto da vida da Igreja de Roma, porque dediquei grande parte do meu sacerdócio, cinquenta anos, ao trabalho na Cúria Romana.
Folheando o Anuário Pontifício pode-se ver a descrição pormenorizada dos vários organismos da Cúria, da Secretaria de Estado às Congregações, dos Tribunais aos Pontifícios Conselhos, das administrações aos vários escritórios e comissões. Como em um filme vê-se toda a composição da Cúria Romana, como foi reorganizada pelo falecido pontífice João Paulo II com a constituição apostólica Pastor Bonus de 28 de junho de 1988.
Gostaria particularmente de recordar o espírito de serviço que anima a grande família destes colaboradores do Santo Padre. Fui testemunha direta, principalmente nos 16 anos em que fui Secretário de Estado (15 anos durante o pontificado do Papa João Paulo II e um ano no início do pontificado do Papa Bento XVI).
De resto, o Papa Paulo VI já tinha delineado a Cúria Romana como “um cenáculo permanente” totalmente consagrado ao serviço da Santa Igreja de Deus.
 

As representações pontifícias
Falando dos colaboradores do Papa, não quero esquecer de evidenciar o grande serviço realizado pelos representantes pontifícios espalhados pelo mundo. O Anuário Pontifício descreve-nos a sua presença na maior parte dos países do mundo. É uma presença que tem também um caráter oficial com os 178 Estados com os quais a Santa Sé mantém regulares relações diplomáticas.
Como se sabe, com o nascimento dos Estados modernos nos séculos XV e XVI, iniciaram também a se constituir missões permanentes entre os Estados. Os Romanos Pontífices, que até aquele momento tinham-se limitado ao envio transitório de próprios representantes para algumas finalidades específicas, também recorreram então a tal instrumento de diálogo e de colaboração permanente. Assim nasceram as primeiras nunciaturas na Espanha, na França, na Alemanha, na Polônia, assim como na República de Veneza, que na época mantinha úteis contatos com todo o Extremo Oriente.
Pela história pode-se ver que a origem de tais nunciaturas não era ligada apenas às relações oficiais com os Estados, mas tinha como objetivo, principalmente, manter e incrementar a comunhão entre a Sé Apostólica e as Igrejas particulares. Um típico exemplo é o envio de núncios apostólicos na Alemanha, no início da Reforma, para responder à expansão do protestantismo na mesma região onde este tinha nascido. No final do Concílio Tridentino, também os representantes pontifícios na Espanha, na França, e nos vários Estados da península italiana receberam depois do Papa São Pio V, assim como do Papa Gregório XIII e dos sucessores, a missão de fazer com que fossem aceitas as decisões conciliares. Na realidade, foi mérito também dos núncios a aplicação da reforma tridentina na Europa.

A serviço dos povos
O Anuário Pontifício de cada ano leva-nos também a considerar várias outras faces da atividade da Igreja, principalmente a sua atividade social. Segundo as estatísticas emerge, com efeito, todo o trabalho que realizam as grandes Famílias religiosas, os que abraçaram os conselhos evangélicos e que se colocaram a serviço do próximo, nos mais variados setores da assistência, da caridade e da promoção social.
O Anuário Pontifício mostra também a contribuição da Igreja à cultura contemporânea com as suas escolas, as suas universidades e as suas academias.
Em síntese, o Anuário pontifício de cada ano abre-nos uma janela para o mundo e permite-nos intuir, ao menos em parte, a obra que a Sé Apostólica está realizando para difundir até os confins da terra o Evangelho de salvação que Cristo nos doou.



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