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SACRAMENTOS
Extraído do número 01/02 - 2005

A primeira comunhão aos sete anos ou mesmo antes…


Palavras do prefeito da Congregação para o Clero em uma carta endereçada a todos os sacerdotes por ocasião do Ano da Eucaristia


do cardeal Darío Castrillón Hoyos


O cardeal Darío Castrillón Hoyos

O cardeal Darío Castrillón Hoyos

Queridos sacerdotes, Dirijo-me a vós que, através do correio eletrônico, estais conectados com nosso site www.clerus.org e que vos oferece documentação específica para a formação permanente, sobretudo graças às videoconferências internacionais de índole teológica, organizadas pela Congregação para o Clero, que já temos por mais de três anos, e que toca temas que vos concernem de perto.
Queria agradecer neste tempo que segue imediatamente depois do Natal a vós párocos que, neste ano especial da Santa Eucaristia, vos dedicais ainda mais a viver e testemunhar este mistério eucarístico em vossas paróquias.
“Fazei isto em memória de mim”, diz-nos Jesus, e nós, através do exercício de nosso ministério, podemos oferecer cada dia seu Corpo e seu Sangue sacramentalmente presente sobre o altar, e poder exclamar: “O Verbo se fez Carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14).
O tempo de Natal foi um tempo dedicado especialmente às crianças. Com efeito, o Deus encarnado, o Emanuel, aparece a nós com o rosto de Menino Jesus, quando for adulto, dir-nos-á que o cami­nho para entrar no Reino dos Céus passa pelo coração de uma criança: “se não vos fizeres como criança, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18, 3).
Precisamente no Angelus de 6 de janeiro passado, solenidade da Epifania do Senhor, uma vez mais o Santo Padre afirmou a importância dos pequeninos na Igreja, dizendo que: “as crianças são o presente e o futuro da Igreja. Têm um papel ativo na evangelização do mundo e com suas orações contribuem a salvá-lo e a melhorá-lo”.
Como não pensar então de modo especial, neste ano da Eucaristia, nas crianças: elas que freqüentam nossas paróquias e que são as primeiras destinatárias da catequese. Acolhemo-las, antes que nada, à Pia Batismal, quando vêm acompanhadas de sua família; depois as encontramos mais freqüentemente na paróquia, para participar nos cursos de catecismo em preparação à Primeira Comunhão!
Um grande Papa canonizado pela Igreja, São Pio X, dedicou precisamente às crianças não pouca atenção e esforço pastoral. Em 8 de agosto de 1910, via emanado o Decreto “Quam Singulari”, através do qual o Santo Padre Pio X estabelecia que se podiam admitir as crianças na Primeira Comunhão desde a idade de sete anos.
Foi aquele um evento muito importante para a pastoral das crianças, pois sem necessidade de esperar mais tempo, podiam aproximar-se assim à Comunhão Eucarística, depois de ter recebido em suas paróquias a devida preparação que lhes permitia aprender os primeiros elementos fundamentais da fé cristã. De fato, já naquele tempo, havia-se situado a idade da reflexão ao redor dos sete anos, quando a criança podia já distinguir o pão comum do Pão Eucarístico, verdadeiro Corpo de Cristo.
Junto com São Pio X, estamos convencidos que esta prática de permitir às crianças a Primeira Comunhão desde a idade de sete anos traz à Igreja grandes graças do Céu. Também, não há que esquecer que na Igreja primitiva o sacramento da Eucaristia se administrava aos recém-nascidos, em seguida depois do Batismo, sob as espécies de poucas gotas de vinho.
Permitir que as crianças pudessem receber antes possível Jesus Eucarístico havia sido por muitos séculos um dos firmes cimentos da pastoral para os pequeninos na Igreja; costume que foi restabelecido por São Pio X em seu tempo, que foi louvado por seus Sucessores, e ainda mais vezes por nosso Santo Padre, João Paulo II.
O cânon 914 acolheu plenamente o pensamento do Pontífice: “Os pais, em primeiro lugar, assim como também o pároco, têm obrigação de procurar que as crianças que chegaram ao uso da razão se preparem convenientemente e se nutram o quanto antes, prévia Confissão sacramental, com este alimento divino”.
O Santo Padre voltou recentemente sobre aquela decisão de São Pio X com palavras de admiração; o fez em seu livro “Levantai-vos! Vamos!”: “Um testemunho comovedor de amor pastoral pelas crianças deu meu predecessor São Pio X, com sua decisão sobre a Primeira Comunhão. Não somente reduz a idade necessária para aproximar-se à Mesa do Senhor, da qual eu mesmo me aproveitei em maio de 1929, mas que deu a possibilidade de receber a comunhão inclusive antes de ter completado os sete anos se a criança mostrar ter suficiente discernimento. A Sagrada Comunhão antecipada foi uma decisão pastoral que merece ser recordada e louvada. Produziu muitos frutos de santidade e de apostolado entre as crianças, favorecendo que surgissem vocações sacerdotais” (João Paulo II Levantai-vos! Vamos!).
Deixai vir a mim as criancinhas, Carl Vogel von Vogelstein, Galeria de Arte Moderna, Florença

Deixai vir a mim as criancinhas, Carl Vogel von Vogelstein, Galeria de Arte Moderna, Florença

Nós, sacerdotes, chamados por Deus a custodiar o Santo Sacramento do altar em união a nossos Bispos, podemos e devemos cuidar antes de tudo das crianças como as primeiras destinatárias deste dom imenso: a Eucaristia, que Deus pôs em nossas frágeis mãos de argila, sobre nossas mãos consagradas.
Creio que é uma das maiores alegrias para o pároco aquela de escutar a Primeira Confissão de uma criança, e logo, fazê-la receber a Primeira Comunhão; e vem espontaneamente à mente a certeza de que o quanto mais novas forem, mais digna será a acolhida do coração a Cristo sacramentado. Com efeito, quando a mente da criança chega à idade na qual começam as reflexões - e hoje esta idade chega logo - está aberta e disponível à acolhida da luz divina, que faz penetrar até onde é possível o mistério do amor de Deus para o homem. Logo a fé se levanta sobre a razão, e esta fé -que com freqüência a experimentamos precisamente em nossas paróquias - é tão viva nas crianças que elas são capazes, às vezes melhor que nós, de expressar com a oração imediata sua proximidade com o Senhor.
Confiamos, portanto, que este santo costume, recordado por todos os últimos Papas, de fazer aproximar os pequenos à Sagrada Eucaristia, depois de terem feito sua Primeira Comunhão, seja cada vez mais estimado e dentro do possível seguido, particularmente neste Ano da Eucaristia. Rezemos para que a caridade pastoral seja a força de todo pároco ávido de animar a pastoral paroquial, em união a seu Bispo, em sintonia e em colaboração com as famílias e os educadores das crianças; para que o amor pela Santíssima Eucaristia seja transmitido desde a mais terna idade, e o desejo de receber o Corpo de Cristo se converta no cami­nho mais seguro para assegurar um futuro de paz e santidade, não só ao crente, mas à inteira comunidade cristã.
Em união de oração e de trabalhos pastorais, saúda-vos em Cristo.


Cidade do Vaticano,
8 de janeiro de 2005


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