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Extraído de LEITURA ESPIRITUAL

O martírio de santo Alexandre


Ano 303. Um grupo de militares convertidos ao cristianismo está na prisão, por sua fé. Sua unidade impressiona os carcereiros. Fogem. E o caminho da fuga se torna o caminho para a glória
 


por Lorenzo Cappelletti


Um grupo de cristãos segue em fuga de Milão, residência do augusto do Ocidente Maximiano Hercúleo e de sua corte. Estão fugindo na direção de Como. Talvez estejamos em meados de 303. O mês e o dia também continuam imprecisos. Os nomes daqueles homens, porém, foram precisamente conservados pela tradição. Trouxeram na fronte o nome do Cordeiro: não podiam cair no esquecimento.
O signifer Alexandre, o oficial que comandava o primeiro manípulo dos triarii (os soldados escolhidos, aqueles que entravam por último na batalha); seus companheiros de milícia Cássio, Severino, Segundo e Licínio; Fidélis, o fiel filho espiritual do santo bispo de Milão, Materno; dois funcionários imperiais, Carpóforo e Essanto, que se haviam manifestado como cristãos no exato momento da prisão de Alexandre e companheiros. São esses os componentes daquele grupo heterogêneo, mas tão ligado na profissão da única fé, a ponto de deixar estupefato o carcereiro pagão (impius) Silano diante do milagre de sua unidade (forte viderat miraculum: tivera a oportunidade de assistir a um milagre).
Os notáveis do grupo, Carpóforo e Essanto, puderam, evidentemente graças à posição que ocupavam, tirar da prisão Alexandre e companheiros, e, com Fidélis, os estavam ajudando a fugir. Pretendiam, com a fuga, evitar que passassem pela dura provação da prisão e das torturas, que talvez os obrigassem a apostatar. Aqueles cristãos sabiam que não era necessário enfrentar tudo de peito aberto. Até mesmo um caminho de fuga poderia bastar para glorificar a Deus.
Alexandre e companheiros tinham sido presos (in cippo constricti) porque eram cristãos, em Milão, no cárcere Zebedeu (sobre a qual, a partir do século V, seria construída uma igreja que figurará entre as mais antigas paróquias milanesas).
De fato, a partir de 297-298 a perseguição, cuja primeira fase foi ordenada pelo próprio Diocleciano, começara a atingir os militares, os mais expostos, aqueles que tinham como dever inviolável prestar homenagens públicas aos deuses do Império. Seja como for, não eram desejados derramamentos de sangue. Até porque a época exigia a máxima compactação nas fileiras do exército. A Legião Tebana, por exemplo, à qual pertenciam aqueles soldados, estava prestes a se deslocar para as Gálias, onde havia décadas reinava um estado de anarquia endêmica. A disciplina não podia ser quebrada. E disciplina eram também, senão sobretudo, os atos de culto celebrados em datas simbólicas. Por tais atos se media a confiabilidade das tropas e principalmente dos oficiais (em que são diferentes os nossos dias?). Alexandre e companheiros devem ter-se recusado a fazer algum desses gestos de culto e por isso foram presos. Depois encontraram uma rota de fuga, como vimos.
Logo, porém, foram capturados. A Passio dedicada a eles afirma que em 7 de agosto Carpóforo e Essanto foram encontrados e mortos na localidade de Selvotta (Como); e o Martirologio romano assinala no mesmo dia o dies natalis de Cássio, Severino, Segundo e Licínio, embora deles não subsista uma Passio. Fidélis, por sua vez – narra a sua Passio –, tendo-se separado dos companheiros, teria sido dali a pouco encontrado e morto na localidade de Samolaco (Sondrio). Só Alexandre teria sido reconduzido a Milão, à presença do imperador, e ali instado de várias maneiras a sacrificar, pois, narra a Passio, era caro ao imperador. “Usque nunc quidem adhaesisti mihi / até agora, em verdade, foste-me caro”.
Numa época já oficialmente cristã (ou seja, já a partir dos séculos IV-V) começarão a falar, como a Passio Alexandri (que talvez seja daquele tempo, ao menos em seu núcleo original), do imperador Maximiano e de outros imperadores como tiranos extremamente ferozes e cruéis; a Passio Alexandri também o chama “saevissimus et crudelissimus”, aliás contradizendo-se, como vimos. É claro que eram homens de poder sem demasiados escrúpulos, mas na realidade Maximiano e seus predecessores, assim como seus funcionários, não exerciam nenhuma crueldade gratuita contra os cristãos. A tradição e a lei os obrigavam a exigir atos de obediência formal. Os cristãos experimentavam e, portanto, entendiam que nada mais era formal, mas para os pagãos tudo tinha esse caráter, principalmente a religião, que em seu significado próprio quer dizer “escrupulosa repetição de cerimônias” (religio, de relegere = repetir).
Não desperta surpresa, portanto, que aquele grupo de cristãos tenha sido perseguido. A ordem, segundo a Passio Alexandri, não era matá-los, mas levá-los de volta à prisão (depois, como frequentemente acontece, devem ter sido violentos com eles). No máximo surpreende – mas é totalmente plausível, do ponto de vista histórico (tratava-se de um oficial) – que só Alexandre tenha escapado à morte, e sobretudo a insistência persuasiva com que procurarão de todas as maneiras evitar que receba a condenação capital, até obrigando-o fisicamente a sacrificar.
Tendo-se rebelado, porém, Alexandre – segundo a Passio – teria conseguido fugir de novo. Dessa vez, depois de atravessar o rio Ada, refugia-se nos bosques de Bérgamo. Mas, capturado, não consegue escapar à decapitação, depois de ter-se recusado pela enésima vez a fazer o sacrifício idolátrico. Uma mulher, Grata, com um misto de compaixão instintiva e abertura à graça (que caracterizou também Maria de Magdala, Salomé e Maria de Tiago), recolhe seus despojos para dá-los a Bérgamo como pretiosissimus thesaurus, e assim fazer deles certíssimo fundamento histórico e não convencional daquela Igreja.
Quem sabe Manzoni, que trazia como lembrança do avô o nome do santo mártir, não tenha desejado, no capítulo XVII dos Noivos, fazer Renzo percorrer, por bosques e campos, aquele caminho de fuga de Milão a Bérgamo que fora atravessado pelo signifer Alexandre? Como Alexandre, Renzo fugia sozinho e amedrontado, mas, diferentemente de Alexandre, não teve de oferecer seu corpo, nem mesmo na ficção do romance. O corpo em sacrifício já tinha sido oferecido por aqueles soldados, mesmo sem intenção, quando, entre Milão, Bérgamo e Como, ninguém sabia o que era o cristianismo. Tinham-se recusado, com uma obstinação ilógica aos olhos dos pagãos, a oferecer o sacrifício aos ídolos, para oferecer-se a si mesmos como sacrifício vivo ao Deus vivo. Realizando, sem talvez nem conhecê-las, as palavras de Paulo: “Eu vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso verdadeiro culto”. Loghikén latreían: a única devoção lógica, digna do homem.



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