Rubriche
Extraído do número04 - 2003


3O DIAS NO MUNDO


Papa Wojtyla/1
"Guerra, nunca mais"

"Eu pertenço à geração que viveu a segunda guerra mundial e lhe sobreviveu. Tenho o dever de dizer a todos os jovens, aos que são mais jovens do que eu, que não tiveram esta experiência: ‘Guerra, nunca mais’". Talvez estas sejam as palavras mais dramáticas que o Papa João Paulo II tenha pronunciado como última tentativa de evitar a guerra contra o Iraque. Angelus de 16 de março.


Papa Wojtyla/2
O jovem Karol
sob o nazismo

O jornal La Stampa de segunda-feira, 17 de março, comentando as palavras pronunciadas pelo Papa no dia anterior, dedicava um amplo artigo de Marco Tosatti sobre a juventude de Karol Wojtyla, da sua tentativa de fuga depois da invasão nazista, até a decisão de entrar no seminário clandestino dirigido pelo cardeal Sapieha, depois de ter milagrosamente escapado, em 6 de agosto de 1944, do último grande rastreamento nazista. É particularmente comovente a parte que recorda do massacrante trabalho do jovem Karol no período da ücupação nazista. Eis o trecho: "O jovem Karol trabalhava numa escavação que fornecia sódio à fábrica da Solvay. Um expediente que servia para evitar a deportação ao Leste, para os campos de trabalhos forçados. Todos os dias percorria sete quilômetros a pé para ir e sete para voltar. O seu serviço era o de carregar pesadas pedras, que eram obtidas de grandes blocos de rocha que outros quebravam, em carrinhos que passavam nos trilhos. Depois da morte de seu pai, conseguiu ser transferido da escavação à fábrica. Ali transportava em dois baldes, unidos às costas por uma travessa, o material até o caldeirão colocado sobre uma rampa de escadas...".


Papa Wojtyla/3
O "Trittico Romano" de João Paulo II

No dia 6 de março na aula João Paulo II da Sala de Imprensa da Santa Sé foi apresentado o novo livro de poesias do Papa, intitulado, em italiano, Trittico romano — Meditazioni. A apresentação foi feita pelo cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, seguida por um comentário crítico dos textos feito pelo professor Giovanni Reale. No decorrer da apresentação, o ator Nando Gazzolo leu algumas das novas poesias de João Paulo II. Além de um bom número de jornalistas, participaram do evento sete cardeais, sete arcebispos e três bispos da Cúria Romana.
Na conclusão do seu comentário crítico, o professor Reale disse: "Wojtyla reúne em si — em várias medidas — as três grandes forças espirituais mediante as quais o homem desde sempre buscou a verdade: ‘arte’, ‘filosofia’, ‘fé e religião’. O nexo destas três forças, na unidade em que se encontram em Wojtyla, constitui o que Platão chamava o ‘dèmone’ com o qual o homem nasce e por quem é acompanhado durante toda a vida, e é chamado por alguns psicólogos modernos de ‘código da alma’. Portanto este é o ‘dèmone’ que acompanha Wojtyla e que constantemente está presente em tudo o que faz e diz".


Igreja iraquiana
Shlemon Warduni: misericórdia para as nossas crianças

Entre os muitos apelos feitos para acabar com a guerra no Iraque, foi particularmente tocante o de dom Shlemon Warduni. Publicado no Avvenire âe 18 de março, o bispo auxiliar de Bagdá dos Caldeus, dom Shlemon Warduni diz: "Tenham misericórdia das crianças iraquianas, tenham piedade dos jovens iraquianos, dos velhos e das mulheres, que estão realmente desesperados".


Cardeais/1
Dionigi Tettamanzi: ou a negociação ou a violência

_No mundo enfrentam-se duas perspectivas: a primeira sustenta que os conflitos podem ser resolvidos por meio das negociações e dos caminhos do direito, a segunda considera que seja mais eficaz e direto o caminho da violência". Palavras do cardeal Dionigi Tettamanzi, arcebispo de Milão, por ocasião de um congresso em São João de Latrão. As palavras do cardeal foram referidas pelo jornalista Marco Politi num artigo intitulado Prudentes e alinhados, os bispos se dividem, publicado no La Repubblica de 26 de março.


Cardeais/2
Frédéric Etsou: recitar o rosário em casa para pedir a paz

Entre as várias intervenções em favor da paz, chama a atenção a do arcebispo de Kinshasa e presidente da Confederação Episcopal da República Democrática do Congo, dom Frédéric Etsou-Nzabi-Bamungwabi, o qual no final de uma mensagem que concluía com um convite aos fiéis para participarem de uma missa celebrada por ele no Santuário de Nossa Senhora da Paz de Fátima, disse: "Peço às famílias cristãs para que recitem o rosário em suas casas à noite, para assim obter da Santa Virgem Maria, Rainha da Paz, a sua intercessão para o rápido fim da guerra no Iraque.


Tarcisio Bertone
Bagdá como Montecassino

"Bagdá como Montecassino. O arcebispo de Gênova, Tarcisio Bertone, convidado no Congresso anual da Cáritas, usa palavras muito duras quando se fala de guerra. ‘Os ingleses e americanos não têm nenhum respeito pelo patrimônio artístico e cultural. Isso foi demonstrado na Segunda Guerra Mundial, quando bombardearam sítios arqueológicos de enorme interesse e agora estão fazendo o mesmo. Claramente este é o aspecto menos importante da guerra se comparado com as perdas de vidas — acrescenta — mas de qualquer modo representa uma derrota para a humanidade’". Publicado no La Repubblica de 30 de março.


Cartas de paz/1
Jacques Chirac ao Papa

No dia 25 de março o La Stampa publicou na primeira página a carta enviada, quatro dias antes, ao Papa pelo presidente francês Jacques Chirac, na qual se lê: "uma reorganização pacífica da região [iraquiana] deverá ser construída juntamente com a atuação de uma solução duradoura no Oriente Médio, que leve em conta a necessidade de segurança de Israel e o respeito dos direitos do povo palestino [...]. Penso também na proteção das comunidades cristãs particularmente ameaçadas nesta região do Oriente Próximo e Médio e para as quais, sabemos, Sua Santidade dedica toda solicitude e compaixão. Além disso, devemos estar atentos para que o conflito iraquiano não alimente o antagonismo entre civilizações e religiões. Ali está, parece-me, uma das nossas principais responsabilidades diante da História".


Cartas de paz/2
Lula ao Papa

"Neste momento tão grave para o futuro do mundo escrevo para manifestar o reconhecimento e a estima de todo o nosso povo pelas palavras pronunciadas e os gestos realizados por Sua Santidade em favor da paz". Esta é uma passagem da carta enviada ao Papa pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que fez questão de que fosse entregue em mãos pelo Ministro do Exterior, Celso Luiz Nunez Amorim, recebido pelo Pontífice em 31 de março.


"BELIGERANTES"
A superpotência americana e a realidade virtual

Foi publicada uma singular análise no La Repubblica de 16 de março, escrita por George Soros, discutido financeiro de origem húngara. Eis o trecho: "Vejo paralelismos entre a busca da supremacia americana por parte da administração Bush e os processos de crescimento desenfreados, ou bolhas, do mercado financeiro. As bolhas não se criam a partir do nada. Têm uma sólida base na realidade, mas uma errônea interpretação distorce a realidade. Neste caso, a posição dominante dos Estados Unidos é a realidade, o perseguir a supremacia americana é a interpretação errônea. Por um certo tempo a realidade sustenta esta idéia errada, mas, no final, a diferença entre a realidade e falsas interpretações torna-se insustentável".


Guerra/1
Governo EUA
e Calígula

"Oderint dum metuant (odeiem-me desde que me temam): segundo Svetônio, este era o mote de Calígula. Mas não pode ser o mote do governo dos Estados Unidos, que diz levar ao Iraque a democracia, o respeito das resoluções da ONU, o pacífico choque de opiniões e a liberdade da palavra". Conclusão do editorial do La Stampa de domingo 23 de março, escrito por Barbara Spinelli.


Guerra/2
Orações e jejuns para as tropas americanas

"O Congresso dos Estados Unidos aprovou uma moção na qual solicita-se ao presidente George Bush para que proclame um Dia Nacional de Jejum e de Oração para obter a proteção divina para as tropas americanas empenhas na guerra ao Iraque". Repubblica on line de 28 de março.


Guerra/3
As forças armadas americanas e os capelães de Satanás

"As forças armadas americanas, 1 milhão e 400 mil entre soldados e oficiais, é a organização mais integrada ao mundo, multiétnica, multirreligiosa e aberta (alguns anos atrás, seguindo a carta constitucional, os ‘satanistas do exército’ pediram a instituição de um ‘bruxo’ como seu capelão, ao lado dos sacerdotes, rabinos e imames)". Publicado no Corriere della Sera, 1� de abril.


Sagrado Colégio
O falecimento
do cardeal
Hans Hermann Groër

No dia 24 de março faleceu o cardeal beneditino Hans Hermann Groër, 84 anos, de 1986 a 1995 arcebispo de Viena.
Agora o Sagrado Colégio resulta composto por 170 cardeais, dos quais 112 eleitores num eventual conclave. Atualmente restam três purpurados austríacos, dos quais apenas um é eleitor (o arcebispo de Viena Christoph Shönborn). O cardeal Paul Augustin Mayer, com mais de 90 anos, é o único purpurado beneditino no sagrado Colégio.


CÚria/1
Bernard
A. Hebda
subsecretário
nos Textos Legislativos

No dia 1� de março, dom Bernard A. Hebda, americano, foi nomeado subsecretário do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos. Até agora trabalhava na secretaria do mesmo dicastério.
CÚria/2
Francesco Marchisano também presidente da Comissão para a Tutela dos Monumentos da Santa Sé

No dia 8 de março, o arcebispo Francesco Marchisano foi nomeado presidente da Comissão permanente para a tutela dos monumentos históricos e artísticos da Santa Sé. O bispo piemontês, que completa 74 anos em junho, é também responsável por outros cargos: arcipreste da Basílica Vaticana, vigário-geral do Papa para a Cidade do Vaticano, presidente da Fábrica de São Pedro, presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja e de Arqueologia Sacra.


Equador
Vela Chiriboga arcebispo de Quito

No dia 21 de março, o Papa aceitou as demissões do cardeal Antonio José Gonzalez Zumarraga, 78 anos, do cargo de arcebispo de Quito. No seu lugar foi nomeado dom Raul Eduardo Vela Chiriboga, 69 anos, bispo desde 1972, ordinário militar do Equador desde 1989.


ItÁlia
D’Ambrosio arcebispo de Manfredônia, Beschi auxiliar em Bréscia

Em 8 de março, Domenico Umberto D’Ambrosio foi nomeado arcebispo de Manfredonia-Vieste-San Giovanni Rotondo e delegado da Santa Sé para as Obras de São Pio de Pietrelcina. D’Ambrosio, 62 anos, originário da sua nova diocese, desde 1999 era arcebispo de Foggia-Bovino e precedentemente (1990-1999) guiara a diocese de Termoli-Larino.
Em 25 de março, foi nomeado bispo auxiliar de Bréscia, dom Francesco Beschi, 52 anos, originário da cidade lombarda. Assume o lugar de Virgilio Mario Olmi, que completara 75 anos em agosto do ano passado.


Diplomacia
Périsset núncio também na Moldávia

Em 22 de março, o arcebispo Jean-Claude Périsset, suíço, 64 anos, desde 1998 núncio apostólico na Romênia, foi nomeado também representante pontifício na Moldávia. Até então a representação de Chisinau era feita pelo núncio da Hungria.


Afeganistão
Constituída uma missão "sui iuris"

Em 16 de maio do ano passado, foi constituída a missão "sui iuris" do Afeganistão. A notícia, que na época não foi publicada no Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé, apresenta-se na edição 2003 do Anuário Pontifício. É a primeira vez que o martirizado país asiático recebe uma circunscrição eclesiástica católica. Como superior da missão foi nomeado o padre barnabita Giuseppe Moretti, 65 anos, de Recanati, que até 1994 foi capelão da embaixada italiana em Cabul.
DiÁlogo
Primeiro encontro
de cúpula Vaticano-Rabinato de Israel

No dia 3 de março, a Sala de Imprensa da Santa Sé apresentou um comunicado conjunto da Comissão Mista para o Diálogo Católico-Judaico, reunida de 23 a 27 de fevereiro em Grottaferrata, nos arredores de Roma. Participaram do encontro — o primeiro deste gênero — uma delegação do Grã-Rabinato de Israel (presidida pelo rabino Shar Yishuv Cohen) e uma delegação da Comissão da Santa Sé para as Relações Religiosas com o Judaísmo (presidida pelo cardeal Jorge María Mejia). O comunicado mostra "uma ampla convergência em muitos pontos dos dois temas fundamentais tratados: a santidade da vida e os valores da família".




ENCÍCLICA

Ecclesia de Eucharistia



Em 31 de março, por ocasião do Angelus, o Papa anunciou que na quinta-feira santa, 17 de abril, assinará a sua 14� encíclica. O tema do novo documento é o sacramento da eucaristia. Título Ecclesia de Eucharistia.




GUERRA

Jimmy Carter e a guerra escatológica








“Como cristão e como presidente que enfrentou difíceis crises internacionais, adquiri uma grande intimidade com os princípios da guerra justa e é claro que um ataque substancialmente unilateral contra o Iraque não faz parte destes parâmetros. É uma opiniýo compartilhada quase universalmente por todos os líderes religiosos, evidenciando-se entre as exceções alguns porta-vozes da Igreja Batista, sobre a qual pesa o compromisso para com Israel fundamentado em uma teologia escatológica ou do último dia”. São palavras do ex-Presidente dos Estados Unidos em um artigo no New York Times publicado na Itália no La Repubblica de 10 de março.




IRAQUE

A Igreja sob as bombas anglo-americanas








Dom Shlemon Warduni, bispo-auxiliar de Bagdá dos Caldeus, lançou um apelo no dia 27 de março, em nome das Igrejas cristãs no Iraque, para o cessar da guerra (enquanto Bagdá estava sendo mais uma vez bombardeada) através de uma comunicação telefônica à Teleradiopace, emissora da diocese de Chiavari, na Itália. No decorrer do telefonema Warduni confirmou que o patriarcado caldeu de Bagdá foi fechado, depois dos danos causados pelos bombardeios de 21 de março. Os bombardeios também feriram dom Emmanuel-Karim Dally, ex-bispo-auxiliar do patriarcado caldeu de Bagdá. Tais fatos foram referidos pela agência de notícias Misna que, nestes dias, noticiou também que outras igrejas católicas foram atingidas e danificadas pelos bombardeios anglo-americanos. Mas, obviamente, não foram atingidas somente as igrejas. O arcebispo latino de Bagdá, dom Jean Benjamim Sleiman, em uma declaração publicada pelo National Catholic Reporter, de 28 de março, comunica que a primeira vítima dos bombardeios anglo-americanos foi um jovem católico caldeu.




ORIENTE MÉDIO

Mitzna: a paz e a Grande Israel










¾epois do atentado em Haifa (de 5 de março, que causou 15 mortos e 50 feridos) o líder trabalhista Amram Mitzna, ex-prefeito de Haifa por quase uma década, concedeu uma entrevista ao jornal L’Unitàýda qual apresentamos algumas passagens: “Para acabar com este ciclo de sangue é preciso fazer escolhas claras tanto no campo político como no campo operativo, senão ficaremos prisioneiros deste círculo vicioso entre um atentado terrorista uma resposta sanguinária armada que por sua vez provoca outras ações terroristas [...]. É uma ilusão, uma trágica ilusão pensar em continuar a pretender uma vida normal e ao mesmo tempo considerar possível realizar o propósito da Grande Israel. Este propósito, que necessariamente implica o controle de 3 milhões e meio de palestinos, é inconciliável com o objetivo, que foi o dos pioneiros sionistas, de fazer de Israel um país normal, seguro, plenamente integrado na realidade médio-oriental”.


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