Rubriche
Extraído do número02/03 - 2008


ECUMENISMO

A poesia da fé e os distribuidores de sentido


Rowan Williams, ILa dodicesima notte/I, Ancora, Milão, 2008

Rowan Williams, ILa dodicesima notte/I, Ancora, Milão, 2008

A casa editora Ancona traduziu e publicou em italiano uma coletânea de poesias do primaz anglicano Rowan Williams, com o título La dodicesima notte. Na recensão do livro, publicada no Corriere della Sera de 17 de março, Alberto Melloni escreve: “Por uma paradoxal metamorfose do sentido a palavra ‘tradição’ na linguagem comum da experiência cristã é abusada para indicar patrimônios estatísticos, musealidade contraída, autoevidências arrogantes: esquecendo que no ato de fé a comunicação não é ornamento, mas substância [...] Portanto não é por capricho que no último século tenha-se desenvolvido uma “teologia” da experiência literária que, como ensinou Jean Pierre Jossua, concentra-se em uma palavra deliberadamente estranha ao universo religioso, mas capaz de esculpir na pedra da existência aquele encavo no qual a fé lê o mistério de Deus, não como distribuidor de sentido, mas como acolhida de qualquer distância. E não é um caso que, mesmo neste tempo, como se quisesse escapar da vulgaridade oportunista do discurso “religioso”, a palavra da fé fuja, tentando alcançar àquele registro poético que nos séculos travestiu as carnalidades prepotentes como as de São João da Cruz ou adornou a perfeição musical de Efrém, o Sírio.




POLÍTICA

Os neocon (neoconservadores) herdeiros de 1968


Bombardeios anglo-americanos sobre Bagdá, dia 19 de março de cinco anos atrás

Bombardeios anglo-americanos sobre Bagdá, dia 19 de março de cinco anos atrás

No dia 29 de fevereiro o la Repubblica publicou um artigo do filósofo e ensaísta búlgaro Tzvetan Todorov, o qual, depois de ter completado seus estudos em um país que tinha como regime o “socialismo real”, em 1963 transferiu-se para a França. Eis uma passagem do artigo: “Os programas políticos dos partidos podem se dividir em dois grandes grupos. Os primeiros prometem a salvação. Substitutos profanos das religiões, consideram que o mundo, este mísero mundo, é mau na sua totalidade e portanto é preciso abatê-lo para substituí-lo com um outro, no qual tudo procederia às mil maravilhas. Os outros se satisfazem em propor vários níveis de adaptação e de acomodação: o mundo circunstante não é, claro, perfeito – admitem-no –, é preciso reformar alguma coisa aqui e ali, mas se deve aceitar pelo menos algum compromisso em relação às suas ambiciosas esperanças.
Os discursos políticos de 1968 eram claramente pertencentes à primeira categoria: felizmente entre aqueles revolucionários potenciais não havia nenhum ‘futuro’ Lenin. Em todo caso, há alguns anos de distância o projeto de transformação radical e violenta da sociedade ressuscitou sob outra forma, no âmbito de uma doutrina denominada erroneamente ‘neo-conservadorismo’ quando, na realidade, trata-se de ‘neo-revolução’. Somente que, desta vez, não se queria mais garantir a salvação do próprio país, mas a de um país estrangeiro. Algumas vezes tal doutrina é definida como ‘direito de ingerência’: portanto decide-se que para levar a salvação aos outros, neste caso a democracia e a economia de mercado, é lícito, antes, louvável, invadi-los militarmente e impor-lhes um novo regime”.




ECONOMIA

Pinochet, o supercapitalismo e os últimos trinta anos


Augusto Pinochet

Augusto Pinochet

“O livre mercado não é mais o preanunciador da democracia. Isso foi ostentado por Milton Friedman em apoio à Pinochet. Adam Smith previa, ao contrário, a necessidade de que o Estado controlasse o mercado. Segundo uma tese de Robert Reich, presente no seu livro Supercapitalismo, antes do fim dos anos Setenta existia um capitalismo democrático. Depois iniciou o supercapitalismo, um período em que a concorrência desenfreada, mesmo abaixando os preços, diminuiu a democracia, os direitos de liberdade, a segurança no trabalho, a tutela do ambiente. Todas as leis se submeteram à vontade das grandes corporation ou dos grandes bancos, que sozinhos faturaram mais do que inteiras nações”. Escrito por Guido Rossi publicado no la Repubblica de 18 de março.





Chiara Lubich

Chiara Lubich

Igreja/1
Recordando Chiara Lubich

Terça-feira, 18 de abril, foram celebrados os funerais de Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares, que faleceu na noite entre 13 e 14 de março. As exéquias foram presididas pelo Secretário de Estado vaticano, cardeal Tarcisio Bertone. Publicamos do L’Osservatore Romano uma passagem da homilia do cardeal: “Mas, como viver o Amor? Depois da Última Ceia, na comovida despedida dos Apóstolos, trecho que escutamos há pouco, Jesus reza para que ‘todos sejam um’. Portanto, é a oração de Cristo que apóia o caminho dos seus amigos de todas as épocas […] O século XX está repleto de astros luminosos deste amor divino […] Foi também o século em que nasceram novos Movimentos eclesiais, e Chiara Lubich encontra lugar nesta constelação com um carisma que lhe é inteiramente peculiar e que distingue a sua fisionomia e a ação apostólica. A fundadora do Movimento dos Focolares, com estilo silencioso e humilde, não cria instituições de assistência e de promoção humana, mas se dedica a acender o fogo do amor de Deus nos corações.


Igreja/2
A trágica morte de Dom Rahho

“Informado da trágica morte de D. Paulos Faraj Rahho, Arcebispo de Mossul dos Caldeus, em seguida ao dramático rapto ocorrido no passado 29 de fevereiro, desejo transmitir a Vossa Eminência à Igreja Caldeia e à inteira comunidade cristã a expressão da minha particular proximidade, reafirmando a mais decidida deploração por um ato de desumana violência que ofende a dignidade do ser humano e prejudica gravemente a causa da fraterna convivência do amado povo iraquiano. Enquanto garanto fervorosas orações de sufrágio pelo zelante pastor seqüestrado precisamente no final da celebração da via-sacra, invoco do Senhor a sua misericórdia para que este trágico evento sirva para construir na atormentada terra do Iraque um futuro de paz”. Texto do telegrama do Papa (publicado no L’Osservatore Romano, edição portuguesa de 15 de março de 2008) pela morte do bispo iraquiano Paulos Faraj Rahho e endereçado ao cardeal Emmanuel III Delly, Patriarca de Babilônia dos Caldeus.


Igreja/3
A morte do irmão do Papa Luciani

Segunda-feira, 10 de março, faleceu Edoardo Luciani, Berto, irmão do Papa João Paulo I. No telegrama enviado ao Bispo de Belluno-Feltre pelo falecimento, o Santo Padre depois de ter lembrado “do cordial recente encontro em Lorenzago di Cadore”, o Papa escreve: “Ao recordar as suas virtudes humanas e cristãs, particularmente a exemplar dedicação à família, o generoso serviço à Igreja e o intenso empenho civil, elevo fervorosas orações para que o falecido possa partilhar com o Senhor ressuscita do ao lado da esposa e do irmão Pontífice ternamente amados a alegria e a paz sem fim”.


Sagrado Colégio
A morte dos cardeais Dery e Suarez Rivera

No dia 6 março faleceu o cardeal africano Peter Poreku Dery, Arcebispo emérito de Tamale, Gana, nomeado por Bento XVI em 2006. Teria completado 90 anos em maio. E em 22 de março faleceu o cardeal mexicano Adolfo Antonio Suarez Rivera, Arcebispo de Monterrey desde 1983, nomeado cardeal por João Paulo II em 1994.
Portanto em 15 de março o Sagrado Colégio resulta composto por 197 cardeais dos quais 119 eleitores.


Diálogo
A primeira igreja de Qatar

“Ontem foi inaugurada a primeira igreja de Qatar. E alguns milhares de fiéis participaram da primeira missa celebrada pelo cardeal indiano Ivan Dias, enviado pela Santa Sé, que agradeceu a ‘Deus e ao Qatar por este grande presente’”. Publicado no La Stampa de segunda-feira, 17 de março. A igreja do Rosário foi realizada em terrenos doados pelo emir de Qatar, Shaikh Hamad Bin Khalifa al-Thani.


Cúria/1
Subsecretário da Congregação para os Religiosos

No dia 28 de fevereiro, o padre cisterciense Sebastiano Paciolla foi nomeado subsecretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica. Paciolla, que até agora era promotor de justiça do Tribunal da Rota Romana, dividirá o cargo de subsecretário do dicastério com irmã Enrica Rosanna.


Cúria/2
Nomeações na Comissão “Ecclesia Dei”

No dia 13 de março o Papa nomeou monsenhor Camille Perl vice-presidente da Pontifícia Comissão “Ecclesia Dei” da qual era secretário. Na mesma data o Papa nomeou monsenhor Mario Marini secretário do mesmo dicastério, do qual era secretário adjunto.


Vaticano
Nomeações no Instituto para as Obras Religiosas

O L’Osservatore Romano de 24 de fevereiro de 2008 publicou na primeira página e não apenas na seção oficial “Nossas informações” a notícia de que Bento XVI renovara a Comissão Cardinalícia de Vigilância do Instituto para as Obras Religiosas (Ior). Foram confirmados em seus cargos os cardeais Tarcisio Bertone, Secretário de Estado e camerlengo, a Attilio Nicora, presidente da Apsa. E foram nomeados ex novo os cardeais Jean-Louis Tauran (francês, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso), Telesphore Placidus Toppo (Arcebispo de Tanchi, na Índia) e Odilo Pedro Scherer (Arcebispo de São Paulo, Brasil). Mais tarde com uma notícia publicada no boletim nº 1-3 de Variazioni dell’Annuario Pontificio 2008, publicação organizada pela Secretaria de Estado, ficou-se sabendo que o cardeal Tarcisio Bertone fora designado presidente desta Comissão. No passado já tinha acontecido, com o cardeal Jean Villot, que o secretário de Estado fosse contemporaneamente camerlengo e presidente da Comissão de Vigilância do Ior.


Diplomacia/1
Novos núncios na Croácia, Irlanda, Bolívia, Gana e Eslováquia

No dia 14 de fevereiro o arcebispo da ilha da Sardenha Roberto Cassari, 65 anos em agosto, foi nomeado núncio na Croácia. Sacerdote desde 1969, Cassari é bispo desde 1999 e desde 2004 era núncio na Costa do Marfim, Burkina Fasse e Níger.
Em 22 de fevereiro o arcebispo siciliano Giuseppe Leanza, 65 anos, foi nomeado núncio na Irlanda. Sacerdote desde 1966, no serviço diplomático da Santa Sé desde 1972, Leanza precedentemente fora núncio no Haiti, na Zâmbia e Maláui, na Bósnia, Eslovênia e Macedônia, e por último na Bulgária.
No mesmo dia monsenhor Luciano Suriani, 51 anos, foi eleito arcebispo e nomeado núncio na Bolívia. Sacerdote desde 1981, Suriani entrou para a diplomacia da Santa Sé em 1990 e prestou serviços nas representações pontifícias na Costa do Marfim, Suíça, na Segunda Seção da Secretaria de Estado e por último na nunciatura na Itália.
No dia 1º de março monsenhor Leon Kalenga Badikebele, 52 anos, originário da República Democrática do Congo, foi eleito arcebispo e nomeado núncio em Gana. Sacerdote desde 1982, no serviço diplomático desde 1990, monsenhor Kalenga prestou sua obra nas nunciaturas do Haiti, Guatemala, Zâmbia, Brasil, Egito, Zimbábue e, por último, Japão.
Dia 15 de março o arcebispo do Piemonte Mario Giordana, 66 anos, foi nomeado núncio na Eslováquia. Sacerdote desde 1967, no serviço diplomático desde 1976, Giordana é arcebispo desde 2004 quando foi nomeado núncio no Haiti.


Diplomacia/2
Novos Embaixadores da Sérvia, Estados Unidos, Bolívia e Grécia junto à Santa Sé

No dia 21 de fevereiro o Papa recebeu as cartas credenciais do novo embaixador da Sérvia junto à Santa Sé. Trata-se do professor Vladeta Jankovic, 68 anos, ex-embaixador de Belgrado na Grã-Bretanha de 2001 a 2006.
Em 29 de fevereiro apresentou as cartas credenciais a nova embaixadora dos Estados Unidos. Trata-se da professora Mary Ann Glendon, 69 anos, até agora professora de Direito na Harvad Law School de Cambridge (Massachusetts) e presidente da Pontifício academia das Ciências Sociais.
Em 14 de março apresentou as credenciais o novo embaixador da Bolívia. Trata-se de Carlos Federico de la Riva Guerra, 59 anos, até agora presidente da diretoria do “Centro de investigación y promoción del Campesinado” (Cipca) e diretor geral do Colégio Jesuíta San Calixto em La Paz.
Em 15 de março apresentou as credenciais o novo embaixador da Grécia. Trata-se de Miltiadis Hiskakis, 58 anos, diplomata de carreira, ex-cônsul geral em Nápoles de 1992 a 1997, nos últimos dois anos diretor geral do Ministério das Relações Exteriores helênico.


Diplomacia/3
Acordo entre Santa Sé e Andorra

Em 17 de março, no Vaticano, foi assinado um acordo entre a Santa Sé e o Principado de Andorra. Em um comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé recorda-se que: “Em 1993 o principado dotou-se de uma Constituição que mantém em vida o sistema do Co-Principado, que remonta a 1278, no tempo do pontificado de Martinho IV que confirmou o “paretage” (acordo ou pacto). Os co-príncipes – que são o Bispo de Urgell e o Presidente da República da França – realizam de modo conjunto e indivisível as funções de chefe de Estado”. “O acordo assinado entre a Santa Sé e o Principado de Andorra”, prossegue a nota vaticana, “compõe-se de um preâmbulo e de dezesseis artigos, reunidos em seis partes, referentes às seguintes matérias: o bispo de Urgell, o estado jurídico da Igreja Católica em Andorra, o matrimônio canônico, o ensinamento da religião na escola, o sistema econômico da Igreja Católica em Andorra. Conclui-se com algumas disposições finais”.




SÃO FRANCISCO

A glória visível da humildade


São Francisco, Capela de São Gregório, Sacro Speco beneditino de Subiaco, Roma

São Francisco, Capela de São Gregório, Sacro Speco beneditino de Subiaco, Roma

“Aos que perguntam de que modo se pudesse derrotar a violência do Mal, Francisco de Assis um dia respondeu: ‘Por que agredir as trevas? Basta acender uma luz e as trevas fogem assustadas’. É a ‘agressão das trevas’ que deve ser derrotada, em todos os campos. Basta de agressões, cruzadas e contra-cruzadas” . Este é o incipit de um artigo publicado no la Repubblica de 27 de fevereiro, que continua assim: “Mas o seu gênio ampliou o horizonte do conhecimento, incluindo-lhe os valores das coisas, e ampliou o órgão do conhecimento enxertando-lhe o coração. O Cântico das Criaturas vai bem além do sentimento de fraternidade com toda a natureza. Hoje podemos ler nesta oração uma feliz e confiante admiração pelo que o visível anuncia. Mas não pela visibilidade da vida pública, da praça, da polis. Não é neste visível que se traduz o Invisível: acreditar nisso foi um grande erro que trouxe ao mundo a teocracia, e na Itália a ideologia neoguelfa. E que nos séculos passados nutriu as formas verdadeiramente ateu-devotas da teopolítica: um niilismo decisionista que reduz tudo a brutais ou refinadas relações de poder e que chegou até a reduzir as categorias do político a uma bárbara simplificação, permeada por uma ponta mafiosa: amigo-inimigo. O visível que Francisco glorifica é bem outro, ou seja, o da humilde vida de cada uma das criaturas”.


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