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EDITORIAL
Extraído do número 07/08 - 2011

A Democracia Cristã e o fascínio do nome cristão


Mesmo havendo essa preocupação de defesa contra o comunismo, o estímulo era de caráter positivo: era o fascínio que o nome cristão conseguia causar em tudo o que podia ser o desenrolar-se do dia a dia da vida de cada um de nós


por Giulio Andreotti


Alcide De Gasperi com Giulio Andreotti

Alcide De Gasperi com Giulio Andreotti

 

A Democracia Cristã representou para mim – mas acredito que também para muitos outros que ali militaram – o convite constante a considerar não ocasional o que acontece dia após dia, como se fossem muitos fatos desconectados entre si; mas, ao contrário, a considerar tudo como correlacionado, como através de uma teia de aranha que permite colher o sentido profundo das coisas que acontecem e que passam.

Neste livro, uma sintética releitura de alguns momentos importantes da história democrata-cristã escrita por Giovanni Di Capua e Paolo Messa, encontrei citado também o meu primeiro encontro com De Gasperi. Várias vezes tive a oportunidade de contá-lo: eu nunca tinha visto De Gasperi e não sabia quem era ele. Eu não provinha de uma família que se dedicava à política. Ao invés, fui notado por De Gasperi, por ser presidente da Federação dos Católicos Universitários. Um dia eu estava na Biblioteca Vaticana revirando os documentos da Marinha Pontifícia para escrever um ensaio, quando um desconhecido dirigiu-se a mim perguntando se eu não tinha nada melhor para fazer, para depois retirar-se com uma certa frieza. Eu não sabia que aquele senhor era De Gasperi, mas o teria conhecido melhor alguns dias depois, quando Giuseppe Spataro disse-me: “Venha, que De Gasperi quer encontrar você”. Eu seria exagerado se dissesse que então já imaginava o que aconteceria depois daquele encontro, mas para nós jovens, ao nosso redor, tudo era novo e havia um fascínio difícil de explicar na motivação, mas que estava bem presente no nosso espírito.

Os primeiros anos do pós-guerra foram intensos, e é limitante dizer que o único objetivo e o elemento agregador da Democracia Cristã era colocar um freio ao perigo comunista. Mesmo havendo essa preocupação de defesa contra o comunismo, o estímulo era de caráter positivo: era o fascínio que o nome cristão conseguia causar em tudo o que podia ser o desenrolar-se do dia a dia da vida de cada um de nós.

Uma lição que emerge da história da Democracia Cristã, e que pode valer ainda hoje, é que sem um ponto de referência que esteja além do ocasional, o contingente, é quase impossível criar um novo sujeito político. O itinerário para a criação de um novo movimento político não pode ser inicialmente organizativo, tanto que os pais fundadores democratas-cristãos partiram de ideias, do Código de Camaldoli. Se falta a base moral, diria também espiritual, é difícil depois ser capaz de atrair as pessoas e em particular os jovens.

Nos tempos da Democracia Cristã, tivemos muitas crises, mas hoje há menos impulso de caráter teórico e cultural, e maior motivação material. Saber olhar para o alto era um costume que talvez ao longo do caminho tenhamos perdido.

No livro de Di Capua e Messa aparece também o problema das correntes internas da Democracia Cristã. Estas também podiam ser um estímulo espiritual e cultural (algumas reformas importantes como a agrária e a lei para favorecer o Sul da Itália devem-se a estas correntes), mas dolorosamente podiam ser motivo de dramáticas divisões, colocando uns contra os outros. De Gasperi não as queria porque, ao invés de ativar uma competição positiva, podiam ativar uma concorrência deletéria, em um espírito “comercial” que é a última coisa que serve neste âmbito.

Apesar da longa militância nunca me senti um estranho na Democracia Cristã; era atraído sentimentalmente, além de racionalmente, e jamais pensei que o meu caminho pudesse ser um outro. Havia sempre um estímulo para ir adiante sem se tornar frágil por olhar demais para trás. Ainda hoje acredito que a orientação que deve prevalecer seja a de olhar sempre adiante, ou melhor, sempre alto. Este “olhar alto” permite-me fazer uma nota sobre um aspecto que é tratado no livro: a chave para entender a relação que houve entre a Democracia Cristã e a Igreja está nas pessoas. É preciso considerar a grandeza de alguns eclesiásticos com os quais crescemos e caminhamos por algum tempo. Dos hábitos que tinham, Montini era um exemplo disso, de saber olhar os problemas não apenas no seu âmbito material, contingente. Sabiam olhar acima de nós e justamente por isso estavam um passo adiante, sabiam olhar alto.

Concluo: repercorrer a história da Democracia Cristã é muito oportuno, para meditar e não correr o risco de dar hoje como essencial aquilo que é absolutamente marginal e vice-versa. Os tempos que passam trazem sempre novidades, porém jamais se deve considerar que se está no início da criação. Há momentos em que meditar serve para não esquecer aquilo que nos trouxe até aqui.



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