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OS 27 CARDEAIS
Extraído do número 03 - 2007

Uma peregrinação comovente



do cardeal Paul Poupard



O aniversário do pai de família é uma oportunidade muito cara aos filhos para lhe exprimirem seu amor. Por esse motivo, enquanto nos preparamos para celebrar o octogésimo aniversário do Santo Padre Bento XVI, eu não gostaria de me limitar apenas a homenagear a data do calendário. Desejo, em vez disso, dirigir-me ao Santo Padre tocando a memória do coração, repleta de gratidão pelas muitas demonstrações de paternal acolhida, de encontro e de diálogo oferecidas ao mundo todo. Um desses testemunhos sobressai aos outros e me toca intimamente, pois eu o vivi diretamente, numa proximidade especial e privilegiada: a peregrinação à Turquia. Agora que os refletores já se apagaram e as urgências da cobertura jornalística se atenuaram, resta a serenidade para meditar sobre essa visita que Deus acompanhou desde o início e que pôde, assim, realizar-se de maneira feliz, tornando-se um grande dom para a Igreja e para toda a humanidade.
Foi uma viagem pastoral – recorro à visão que o Concílio Vaticano II apresenta na constituição Lumen gentium, nos nos 14-16 – que, como a missão da Igreja, se espalha “em círculos concêntricos”. No círculo mais interno o sucessor de Pedro confirma na fé os católicos; no intermediário, encontra os outros cristãos; já no mais externo se dirige aos não-cristãos e a toda a humanidade. O primeiro dia transcorreu no âmbito desse terceiro “círculo”, o mais largo, para insistir sobre a importância de que cristãos e muçulmanos trabalhem juntos em favor do homem, da vida, da paz e da justiça. No âmbito do diálogo inter-religioso, a divina Providência permitiu que se realizasse, quase no final da viagem, um gesto inicialmente não previsto, e que se revelou muito significativo: a visita à célebre Mesquita Azul de Istambul. Santo Padre, conservo ciosamente esculpidos na memória os poucos instantes de recolhimento naquele lugar de oração durante os quais – estou convicto disso – o senhor se dirigiu ao único Senhor do céu e da terra, Pai misericordioso de toda a humanidade, invocando bênçãos também sobre a conversa com o grão-rabino da Turquia. No horizonte da memória surge Éfeso, portanto o “círculo” mais interno da viagem, em contato direto com a comunidade católica. No jardim em frente ao santuário, uma peregrinação comovente de fiéis vindos da vizinha cidade de Izmir, de outras partes da Turquia e também do exterior para participar da santa missa fez ressoar em meu coração, com toda a sua força e verdade, as palavras: “Onde está Pedro, aí está a Igreja”. Na “Casa de Maria” nos sentimos realmente “em casa”, e nesse clima de harmonia se elevou a oração pela paz na Terra Santa e no mundo inteiro. O “círculo” intermediário se realizou por ocasião da festa de Santo André, em 30 de novembro. Seguindo as pegadas de Paulo VI, que encontrou o patriarca Atenágoras, e de João Paulo II, que foi acolhido pelo sucessor de Atenágoras, Dimitrius I, eu vi o senhor, Santo Padre, renovar com sua santidade Bartolomeu I esse gesto de grande valor simbólico, para confirmar o compromisso recíproco de prosseguir no caminho rumo ao restabelecimento da plena comunhão entre católicos e ortodoxos. O retorno ao “círculo” mais interno, ou seja, o encontro com a comunidade católica presente com representantes de todos os seus componentes na Catedral latina do Espírito Santo, em Istambul, selou essa peregrinação. Que Deus onipotente e misericordioso nos ajude a construir pontes de amizade e de fraternal colaboração entre os povos e as nações, entre as culturas e as religiões, como Vossa Santidade não cessa de testemunhar em todas as ocasiões.
Neste clima de alegre e grata recordação, no grande coral de demonstrações de afeto e de reconhecimento, de alegria e de fidelidade, cheguem a Vossa Santidade meus parabéns mais cordiais na feliz data de seu octogésimo aniversário, além do obrigado do mais profundo do coração por seu precioso ministério pastoral, voltado ao bem de toda a Santa Igreja de Deus. Possa Vossa Santidade continuar sua obra de paz e de reconciliação entre os povos, de diálogo e de encontro entre as culturas e as religiões. Obrigado pelo afável testemunho e pela amabilidade que nos anima todos os dias! O Senhor lhe conceda guiar sabiamente a Igreja e continuar a transmitir-nos essa força de que temos necessidade constantemente para dar razões diante dos homens, com ternura e respeito, da esperança que está em nós (cf. 1Pd 3, 15). Santo Padre, com o coração cheio de gratidão e de filial reconhecimento, eu lhe renovo minhas expressões de feliz aniversário, que hoje se fazem oração: que a Trindade Santíssima o ilumine e o abençoe; que a Virgem Maria, Mãe da Igreja, o acompanhe e o faça sentir sempre a ternura da sua maternal consolação. Ad multos annos, Santidade!


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