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TESTEMUNHOS
Extraído do número 05 - 2005

Os testemunhos de vinte e um cardeais sobre o novo papa



Os testemunhos de vinte e um cardeais. I


Bernardin Gantin

Bernardin Gantin

ESTOU MUITO CONTENTE
do cardeal Bernardin Gantin
decano emérito do Sacro Colégio
Estou muito contente pelo fato de Bento XVI ter-me recebido antes que eu voltasse a Benin para continuar a ser missionário romano na África. E estou muito contente de que, na mesma manhã, o Papa tenha recebido também o cardeal vigário Camillo Ruini e os líderes do Celam. Roma, a África e a América Latina juntas. Desejei ao Papa um pontificado longo e profícuo. E lembrei os problemas de meu continente, tantas vezes esquecido pelos poderosos deste mundo, mas sempre no coração do sucessor de Pedro. De João Paulo II ontem, de seu sucessor hoje. Falei das guerras que ensangüentam nossa terra, da fome que mata adultos e crianças, das seitas que envenenam a fé dos simples, do islã que avança, da Aids que massacra ino­centes. A propósito, fiquei impressionado com o fato de que o primeiro apelo do Papa, no primeiro Regina Coeli rezado da janela de seu apartamento do Palácio Apostólico, tenha sido pela paz no Togo, país que faz fronteira com meu Benin. Estou comovido com a prontidão do Papa, ainda que, obviamente, eu preferisse que nem fosse necessária sua intervenção. Na breve audiência, falamos do presente e do futuro. Não houve tempo para nenhum “amarcord” (“eu me recordo”, em dialeto da região italiana da Romanha; ndt.). De qualquer forma, não posso esquecer que Bento XVI foi criado cardeal por Paulo VI em 1977, e que, naquele que foi um verdadeiro “mini-consistório” – eram quatro os novos cardeais –, a púrpura também foi concedida a minha humilde pessoa. Também por isso, sou grato ao grande papa Montini.
Alfonso López Trujillo

Alfonso López Trujillo

SIMPLES, HUMILDE, TRANQÜILO
do cardeal Alfonso López Trujillo
presidente do Pontifício Conselho para a Família
“A primeira obra de Ratzinger que li foi Introdução ao cristianismo. Impressionou-me por sua clareza e pela maneira de tratar, a partir da fé, os problemas do mundo contemporâneo. Mais tarde, sua obra eclesiológica Palavra na Igreja ofereceu-me também matéria de reflexão. Foi como escancarar janelas para respirar o bom oxigênio da fé. Seus critérios são os critérios justos. Eu costumava dar esse livro de presente a meus sacerdotes, em Medellín, quando eram ordenados; é um daqueles livros que devem estar na biblioteca de qualquer sacerdote. Acredito ter lido tudo o que foi publicado pelo cardeal Ratzinger em espa­nhol, e também em italiano e em francês.” Essas palavras, escritas para meu livro Testemunhos, que saiu em espanhol no já distante ano de 1997, conservam todo o seu valor.
Posso acrescentar, ainda, que conheci o então professor Joseph Ratzinger em 1971. Eu era bispo havia pouco tempo e, na sede da Conferência Episcopal Colombiana, oferecemos um mês de cursos de atualização teológica para os bispos do país. Entre os conferencistas estava o atual papa Bento XVI. Lembro-me como se fosse hoje de que o jovem professor Ratzinger às vezes “sumia” de circulação e se retirava para algum canto para rezar o breviário ou preparar a conferência seguinte. A propósito disso, sou testemunha de como era muito hábil no uso da taquigrafia para escrever velozmente suas palestras.Depois, no ano de 1988, quando eu era presidente da Conferência Episcopal Colombiana, organizei uma semana de encontros entre os bispos e Ratzinger, que nesse meio tempo havia se tornado cardeal e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.Como membro da citada Congregação, tive mais tarde a oportunidade de apreciar nestes mais de vinte anos os grandes dotes humanos e espirituais do atual Pontífice. Sua postura simples, humilde, tranqüila. Sua capacidade de escuta e de síntese. Sua abertura paciente ao diálogo. Sem nunca esquecer, porém, a obrigação de lembrar a todos o que o Senhor deseja de Sua Igreja.Ainda em meu livro de 1997, escrevi: “Francamente, em nós que o conhecemos de perto, provoca risos vê-lo injustamente qualificado como ‘grande inquisidor’. Antes de mais nada, acredito que só sua obediência exemplar o tenha levado a uma responsabilidade tão difícil como essa, exercida com a autoridade que se cimenta na verdade serena, mas firmemente servida [...]. Um detalhe talvez pouco conhecido é o da sua paciência, que poderia ser testemunhada por aqueles que tiveram de lidar com ele na realização das tarefas que a Igreja lhe confiou, inclusive os teólogos da libertação”. Essas palavras também, depois de oito anos, não perderam seu valor... Pelo contrário.Quero concluir este meu breve testemunho afirmando que estou muito honrado pelo fato de ter estado entre os primeiros a serem recebidos em audiência particular pelo Papa. Nessa ocasião, tive a oportunidade de atualizá-lo sobre os preparativos do Encontro Mundial das Famílias com o Papa, previsto para a primeira semana de julho de 2006 em Valência, na Espanha.
Giovanni Battista Re

Giovanni Battista Re

A NOVIDADE DO NOME
do cardeal Giovanni Battista Re
prefeito da Congregação para os Bispos
Se o nome Bento XVI foi uma surpresa para muitos, já não se pode falar realmente em surpresa no que diz respeito à brevidade do conclave e à eleição do cardeal Ratzinger, graças à personalidade do novo Papa.
De fato, ele tem estado, já há anos, entre os teólogos de maior destaque (tendo assumido a cátedra universitária aos 31 anos, tendo sido perito do Concílio Vaticano II, etc.); além disso, em 1977, ou seja, desde que Paulo VI o nomeou arcebispo de Munique e, alguns meses depois, cardeal, tem estado entre os personagens mais conhecidos no mundo por sua espessura intelectual, pela visão dos problemas de nosso tempo e pelo empenho na defesa da identidade cristã.A novidade do nome não deve levar a pensar numa descontinuidade com seus predecessores imediatos. Bento XVI certamente continuará a linha de João Paulo II, na esteira da bimilenar tradição da Igreja. Ele mesmo o declarou, no dia seguinte à sua eleição, afirmando que parecia “sentir a mão forte” do papa João Paulo II apertando a sua, e ele mesmo dizendo: “Não tenha medo!” (L’Osservatore Romano, 21 de abril).O papa Ratzinger une vigor e rigor intelectual à fineza humana e à simplicidade de maneiras. São também reveladoras de sua humanidade as palavras com as quais apresentou a si mesmo, logo depois da eleição, definindo-se “um simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor”.A grandeza de um papa está no fato de ser sucessor de São Pedro e, conseqüentemente, vigário de Cristo na terra, com a tarefa de confirmar os irmãos na fé e de ser fundamento da unidade da Igreja. Muda a pessoa, mas continua a mesma missão.Todavia, todo papa traz sua personalidade, suas origens, a marca que lhe vem do ambiente em que ocorreu sua formação humana e cristã. Portanto, o estilo de Bento XVI será diferente do de seu predecessor, mas não será diferente o amor a Cristo e o desejo de servir à humanidade, ajudando-a a crescer na fraternidade, na solidariedade, no respeito aos outros, no amor, na justiça e na convivência pacífica.Nestes vinte e três anos em que foi chefe do organismo da Cúria Romana que se ocupa da defesa e da promoção da fé católica, o cardeal Ratzinger manifestou ser uma grande testemunha da verdade sobre Deus e sobre o homem, sem ceder às modas e sem nunca cair na busca pelo sucesso deste mundo.Na homilia do dia em que se abriu o conclave, comentando São Paulo, que exortava a não se deixar levar “ao sabor de qualquer vento de doutrina”, o cardeal Ratzinger usou palavras fortes contra a “ditadura do relativismo”, tão difundido hoje, “que deixa como medida última apenas o próprio eu e suas vontades”. E concluía que uma fé adulta não é aquela que “segue as ondas da moda e da última novidade”, mas é “a fé profundamente arraigada na amizade com Cristo” (L’Osservatore Romano, 19 de abril). São palavras que fazem entender o horizonte de seu pensamento e de sua mentalidade, e que manifestam um espírito corajoso. Homem de fé profunda, está disposto a encontrar e a dialogar com qualquer um, desde que seja alguém sinceramente em busca da verdade.Enquanto João Paulo II era por natureza um místico e um filósofo, em Bento XVI prevalece uma espiritualidade arraigada na tradição dos Padres da Igreja e uma forte dimensão teológica.A escolha do nome se liga ao empenho pela paz que caracterizou Bento XV (1914-1922), que falou da guerra como um “massacre inútil” e buscou incansavelmente soluções pacíficas. Mas esse nome retoma sobretudo a herança de São Bento, fundador do monaquismo, que de Monte Cassino difundiu-se por toda a Europa e tanto influiu na formação da civilização européia, baseada no reconhecimento do primado de Deus sobre a história e do espírito sobre a matéria. O nome Bento tem, portanto, uma profunda raiz de fé, de cultura e de civilização. Dos dezesseis papas que escolheram esse nome, dez eram romanos: assim, nesse nome há também uma raiz de romanidade.A experiência nos ensina que cada época tem o papa de que precisa, pois o Espírito Santo age na I­gre­­ja e nos corações.O extraordinário interesse que o papado suscitou no mundo nestas semanas, e a incisividade que teve nos corações, não apenas manifesta o quanto é viva a Igreja Católica, mas é também sinal de esperança de que a ação do novo Papa, mesmo entre as tempestades e tribulações que não faltarão, trará frutos abundantes de bondade e de bem à humanidade de hoje, marcada por um desejo de infinito que ninguém jamais poderá apagar dos corações humanos.Bento XVI agora traçará seu caminho, que será novo e antigo ao mesmo tempo. Na homilia para a missa de inauguração do ministério pastoral como sucessor de Pedro, Bento XVI quis recordar e fazer suas as palavras de João Paulo II que soaram em 22 de outubro de 1978: “Abri as portas a Cristo!”. Com força, subli­nhou que “o cristão nunca está sozinho” e que quem deixa Cristo entrar em sua existência “não perde absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande” (L’Osservatore Romano, 25 de abril).De agora em diante, o papa Ratzinger não terá mais tempo para tocar Mozart ao piano. Será um Papa que reforçará a fé no mundo; será um grande Pastor, exigente no plano da fé e dos princípios, mas com o coração cheio de bondade para com os próximos e distantes, num mundo sedento de amor e de razões de esperança e de vida.
Francis Arinze

Francis Arinze

A LITURGIA É A EXPRESSÃO DA FÉ
do cardeal Francis Arinze
prefeito da Congregação para o Culto Divino
e a Disciplina dos Sacramentos
Conheci o então cardeal Joseph Ratzinger quando era arcebispo de Munique, em 1977 ou 1978, durante uma visita à Alemanha que fiz quando era arcebispo de Onitsha, na Nigéria. Eu tinha ouvido falar dele como teólogo, mas nunca o havia encontrado antes. Conheci-o muito melhor quando fui nomeado por João Paulo II presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, em 1984, e depois na qualidade de membro da Congregação para a Doutrina da Fé.
Eu diria que é uma grande personalidade. Nele vejo um sacerdote, um bispo, um cardeal e agora um papa dedicado a Jesus Cristo e à Igreja; uma pessoa de fé, de fé católica sem descontos, inteligente. Papa Bento sabe articular a fé de forma clara, lúcida; de uma forma que agrada aos doutos e não é difícil demais para os simples. Quando se tem a sorte de ouvi-lo, fica-se sempre enriquecido doutrinal e espiritualmente. É uma pessoa muito inteligente, mas ao mesmo tempo não oprime o outro, sabe escutar. Se o outro apresenta realmente um argumento positivo, ele não hesita em aceitá-lo. Eu mesmo o vi pronto a mudar sua posição quando se viu diante de argumentos realmente persuasivos.As pessoas muitas vezes esquecem que o papel da Congregação para a Doutrina da Fé é promover e defender a fé, e não reprimir os teólogos dissidentes. Assim, imaginam o cardeal Ratzinger apenas como um árbitro severo e fiscalizador, pronto a apitar impedimentos ou a anular gols ilegítimos... No entanto – ainda que seja correto haver um árbitro para evitar que o jogo acabe em briga –, a fé é algo muito mais importante do que uma partida de futebol, e a figura do cardeal Ratzinger, hoje papa Bento, não pode ser reduzida à de um árbitro petulante. Basta ver o L’Osservatore Romano de 24 de abril, com duas páginas repletas de sua bibliografia produzida nos últimos quarenta anos. Realmente impressionante!Às pessoas que não o conhecem pessoalmente, eu digo: esperem, ouçam, abram os olhos, abram também os ouvidos, pois uma pessoa não pode ver quando fecha os olhos e não pode ouvir nada quando não quer escutar.Alguns têm medo da verdade, por isso, quando ouvem falar de Congregação para a Doutrina da Fé, logo dizem que estão com dor de cabeça ou pressão alta; mas eu digo a eles que não tenham medo: quando lerem mais os textos deste Papa, sentirão, experimentarão mais a alegria de serem fiéis testemunhas de Jesus!Papa Bento XVI, como teólogo e cardeal, escreveu muito sobre a liturgia, pois “lex credendi, lex orandi”: a liturgia é a expressão da fé e é a fé que guia a liturgia. A liturgia não é o campo daqueles que gostam de fazer as coisas da própria cabeça, não é o campo dos “faça você mesmo”. A liturgia é a expressão oficial da fé da Igreja, a celebração dos mistérios de Cristo que são celebrados. E o cardeal Ratzinger – hoje papa Bento – tinha idéias bastante claras sobre a liturgia, e não tinha medo de exprimi-las. Isso nos encoraja muito em nosso trabalho da Congregação para o Culto Divino, como bem se pode adivinhar. Quem não tem medo de abrir os ouvidos, entenda!
Bernard Francis Law

Bernard Francis Law

ELE VIVE A SUA VIDA SEM MEDO
do cardeal Bernard Francis Law
arcipreste da Basílica Patriarcal Liberiana
de Santa Maria Maior
Eu conhecia os livros de Joseph Ratzinger teólogo, mas o primeiro encontro com o atual Pontífice foi na década de 1980, quando ele era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e eu, delegado eclesiástico da Conferência Episcopal norte-americana para a pastoral provision dos membros do clero anglicano casado que queriam entrar na Igreja Católica como sacerdotes. Na prática, eu atuava como trait d’union entre a Congregação, que formalmente concedia aos anglicanos a permissão de serem consagrados sacerdotes, e cada um dos bispos, que estavam dispostos a dar uma função pastoral a esses novos sacerdotes da Igreja Católica. Depois do Sínodo Extraordinário de 1985, tive a oportunidade de estar mais vezes próximo do cardeal Ratzinger. De fato, em conseqüência daquele Sínodo o Papa decidiu que fosse preparado um Catecismo oficial da Igreja Católica. João Paulo II nomeou Ratzinger presidente da Comissão encarregada de redigi-lo e eu fui nomeado um dos membros dessa Comissão. Naquela ocasião, tive a oportunidade de traba­lhar lado a lado com Ratzinger. E isso para mim foi uma experiência extraordinária, uma riqueza para a minha vida. A propósito disso, não posso esquecer um fato que me liga pessoalmente à figura do novo Papa e à de seu predecessor. Era 27 de maio de 1994, o último dia de permanência de João Paulo II no Gemelli, onde fora internado para uma operação na bacia. Bem naquela manhã o Papa – ainda em seu quarto no décimo andar da policlínica – recebeu do então cardeal Ratzinger e deste que escreve a primeira cópia, com a clássica capa de couro branco, da versão inglesa do Catecismo da Igre­ja Católica.
Com o cardeal Ratzinger participei também de muitas reuniões de várias Congregações da Cúria Romana, durante as quais fiquei impressionado com seus pareceres sempre preciosos. Sua capacidade de ouvir, sua capacidade de fazer uma síntese das coisas que ouvia ao longo das reuniões, de eliminar as confusões, era uma coisa maravilhosa.Uma coisa que também sempre me impressionou no cardeal Ratzinger é que, ouvindo-o ou lendo qualquer discurso seu, aprende-se sempre algo, e que ele tem um particular, extraordinário, carisma para ensinar. Não só isso. O novo Papa é também um homem que vive sua vida sem medo, pois põe toda a sua confiança em Deus, em Jesus e na Bem-aventurada Virgem Maria. E isso se viu também na maneira simples como aceitou o encargo humanamente inaudito de bispo de Roma e sucessor de Pedro.
Dionigi Tettamanzi

Dionigi Tettamanzi

“A IGREJA RESPLENDE
DA LUZ DE CRISTO”
do cardeal Dionigi Tettamanzi
arcebispo de Milão
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igre­ja” (Mt 16,18). Essas palavras de Jesus são o fundamento indestrutível e a motivação mais profunda que dá a razão do que experimentamos nestas últimas semanas. De fato, essa afirmação de Jesus explica o amor que o povo cristão alimenta pelo Papa, por qualquer papa.
As palavras de Jesus surgem ao final de um diálogo denso e cada vez mais envolvente entre Jesus e seus discípulos. São como a resposta e o selo do próprio Se­nhor Jesus à incisiva profissão de fé do apóstolo Pedro: “Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo”.Foi essa mesma página evangélica a que foi lida no silêncio da Capela Sistina no final da tarde de terça-feira, 19 de abril, logo depois que o novo Papa aceitou sua eleição canônica a sumo pontífice e escolheu chamar-se Bento XVI. O que num dia distante se havia realizado no diálogo decisivo entre Pedro e o Senhor Jesus, naquele preciso momento se renovava e se realizava uma vez mais entre o próprio Senhor Jesus e o novo Pedro, que tinha o nome e o rosto do cardeal Ratzinger.Estou certo de que a notável e rica personalidade do novo Papa vai-se revelar pouco a pouco, no desenvolvimento de seu pontificado.Há uma traço do itinerário histórico e da personalidade do novo Papa que gosto de su­blinhar. É o traço da fidelidade ao Concílio e de sua realização.E é ainda o Concílio que orienta hoje o ministério do novo Papa que acaba de se iniciar. De fato, seguindo a esteira do saudoso João Paulo II, ele pretende continuar no terceiro milênio “trazendo nas mãos o Evangelho, aplicado ao mundo atual por meio da autorizada releitura do Concílio Vaticano II”, como disse com as palavras que pronunciou na Capela Sistina no dia seguinte a sua eleição.Ora, “onde está Pedro está a Igreja de Milão”, como já afirmava um de meus predecessores, o arcebispo Luigi Nazzari de Calabiana, retomando a conhecida expressão de nosso pai, Santo Ambrósio (“Ubi Petrus, ibi Ecclesia”). Sim, a nossa Igreja também se empenha em caminhar em fidelidade ao Concílio Vaticano II.Esse Concílio, de fato, com novo vigor, apontou Jesus Cristo como “luz dos povos” aos homens de nosso tempo, e desejou “ardentemente iluminar a todos os homens com a luz de Cristo que se reflete no rosto da Igreja, anunciando o Evangelho a todas as criaturas” (Lumen gentium, 1). Como já dizia nosso Santo Ambrósio: “A Igreja não resplende da própria luz, mas da de Cristo, e toma seu esplendor do Sol de justiça” (Exameron IV, 32).Quem fixa o olhar em Cristo Senhor, e na fé o reconhece único, universal e necessário Salvador do homem e do mundo, é envolvido no dinamismo missionário da Igreja: torna-se testemunha dEle, o Ressuscitado. Como disse o Papa no domingo, 24 de abril, “nós existimos para mostrar Deus aos homens”, para proclamar a todos, por meio da palavra e da vida, que “não há nada mais belo do que ser alcançados, surpreendidos pelo Evangelho, por Cristo. Não há nada mais belo do que conhecê-Lo e comunicar aos outros a amizade com Ele”.Quem fixa o olhar em Cristo Senhor faz realmente Seu ardente desejo, Sua vontade precisa: ut unum sint (Jo 17,21), e caminha no caminho do ecumenismo. E ainda: quem fixa o olhar em Cristo abre-se ao diálogo inter-religioso, abre-se – na verdade e no amor – ao homem, a todos os homens e a cada um, em particular às muitas pessoas que vivem no deserto.Impressiona-me o pedido que o novo Papa fez e continua a fazer com singular insistência: o pedido do precioso sustento de nossas orações. “Rezem por mim”: esse é o pedido, ou melhor, a exortação no mínimo pessoal e forte que Bento XVI fez também a mim no breve, mas muito emocionante, momento de cumprimentos e homenagens na Capela Sistina, logo depois de sua eleição, ainda na manhã de sexta-feira, 22 de abril, ao final do encontro com todos os cardeais. Ajoe­lhado diante dele, eu lhe falava da proximidade e do afeto de toda a nossa Igreja ambrosiana, e das orações que o acompa­nhavam. E ele me dirigiu, com um tom ao mesmo tempo firme e comovido, estas simples, mas incisivas, palavras: “E rezem por mim!”.Da torre mais alta do Domo, a santíssima Mãe de Jesus e da Igreja, nossa Madonnina, alcance com seu o­lhar e seu sorriso a Bento XVI, e o acompanhe em seu serviço de pastor universal.

Francis Eugene George

Francis Eugene George

UM HOMEM DE FÉ CATÓLICA
do cardeal Francis Eugene George
arcebispo de Chicago
Papa Bento XVI é um homem de fé, de fé católica, e também um homem de oração, que terá entre suas principais tarefas enfrentar um processo de secularização agressivo, particularmente no Ocidente.
Tive a oportunidade de ouvir o então cardeal Joseph Ratzinger durante uma conferência teológica em Filadélfia, nos Estados Unidos, antes que fosse nomeado bispo. Já havia lido seus livros, não apenas aqueles sobre a doutrina da Igreja, a teologia fundamental e a eclesiologia, mas também os de espiritualidade, que, para mim, foram uma ajuda na oração.Quando me tornei bispo, pude encontrá-lo e conversar várias vezes com ele. Sempre me deu a impressão de um homem sereno e capaz. Capaz de escutar e encontrar os pontos de consenso, deixando para outro momento o confronto sobre os pontos divergentes.Quando Bento XVI apareceu no balcão de São Pedro e fez aquele gesto expansivo para cumprimentar a multidão, pensei: eis a graça de estado; o cardeal Ratzinger antes não era assim tão expansivo. Devo dizer que, para mim, foi também muito importante o momento em que o cardeal Ratzinger aceitou a eleição a papa. Naquele momento, pensei: muito bem, agora temos uma Igreja completa, já não há um comitê de cardeais, mas alguém que tem em suas mãos o poder das chaves.Devo dizer que me impressionou também a esco­lha do nome, com as referências à paz no mundo (papa Bento XV) e ao futuro da Europa (São Bento de Núrsia). Acredito que teremos um Papa profundamente sensível às correntes culturais de hoje.Bento XVI, além disso, conhece bem a história da liturgia, e tem consciência de que, com a chamada reforma litúrgica, algo se perdeu. Ele, sem dúvida, é um homem do Concílio Vaticano II, como era João Paulo II. Mas já se passaram quarenta anos, e temos de enxergar o bem e o mal da reforma. Talvez o novo Papa traga equilíbrio ao campo contestado da liturgia.

 Paul Shan Kuo-hsi

Paul Shan Kuo-hsi

SEGURANÇA DA FÉ E ESPERANÇA
À HUMANIDADE
do cardeal Paul Shan Kuo-hsi
bispo de Kaohsiung (Taiwan)
Estou muito feliz por termos um novo Papa, que é muito semelhante em muitos aspectos a seu predecessor. É um fato que foi um grande amigo de João Paulo II, seu braço direito, e, assim, muitos dos grandes projetos do Pontífice anterior podem ser continuados.
O novo Papa é um homem de fé profunda. Ainda que numa sociedade secularizada exista toda espécie de ventos e ondas doutrinais – que o povo é induzido a seguir, não sabendo muitas vezes aonde ir, porque perdeu a direção, o sentido da vida, o significado das coisas –, este Papa, com sua profunda fé em Deus e em Jesus, sabe de maneira muito clara em que direção vão a Igreja e a humanidade.Além disso, é um grande teólogo, foi durante um quarto de século prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e guardião da fé da Igreja, tem uma visão e uma perspectiva muito claras, das quais a Igreja e a humanidade inteira precisam. O que espero deste novo Papa, em primeiro lugar, é que possa dar um sentimento de segurança à Igreja. Ele sabe que, nas últimas décadas, seguindo os ventos de diversas doutrinas e fés, os próprios cristãos se tornaram cristãos de “supermercado”, daqueles que escolhem aqui e ali, que pegam uma coisa e recusam outra, que já não sabem que a fé tem valor em sua plenitude e requer ser tomada em sua totalidade, que não se pode cortá-la em pedaços, sob pena de não ser autêntica. Este Papa pode nos dar a certeza da fé.Em segundo lugar, o papa Bento pode trazer luz e esperança à humanidade. Muitos jovens buscam para seu futuro um guia, uma luz, uma esperança que nem seus professores nem seus governos podem oferecer. Há muita confusão, e o Papa pode oferecer uma luz, não sua, mas do Senhor Jesus, que disse de si: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não caminhará nas trevas”, pois só em Jesus Cristo temos esperança e luz.Em terceiro lugar, é bonito seu nome, Bento, o do santo patrono da Europa Ocidental. João Paulo II vi­nha da Europa Oriental, que ele libertou do comunismo ateu. A Europa Ocidental, hoje, é muito secularizada, e a fé está enfraquecida demais. Tal como São Bento e seus monges mantiveram a tradição e a cultura cristã na Europa durante as invasões dos bárbaros, da mesma forma Bento pode revitalizar as tradições e as raízes da cultura e da sociedade européias.Sabemos também que, em 1914, no início da Primeira Guerra Mundial, foi eleito o papa Bento XV, que não desejava e não amava a guerra, procurando sempre a paz e a reconciliação. Lembramos ainda que escreveu – e que isso teve um grande impacto – a célebre carta apostólica Maximum illud, para promover as atividades missionárias, como também a criação e a formação do clero nativo nas terras de missão. O atual Papa expandirá também as missões e as novas vocações locais, levará uma maior evangelização ao mundo. Espero que, na atenção às terras de missão, siga seu predecessor João Paulo II, que, em 1995, em Manila, falando à Federação das Conferências Episcopais da Ásia, disse que o terceiro milênio seria o da evangelização da Ásia, e o repetiu em sua exortação apostólica Ecclesia in Asia, depois do Sínodo dos bispos asiáticos. Para o papa Wojtyla, o primeiro milênio havia sido o da evangelização do Mediterrâneo, o segundo o das Américas, do norte e do sul, e de parte da África, e, portanto, o terceiro milênio seria reservado à Ásia. Espero que isso não te­nha sido apenas um desejo ou uma oração, mas também uma profecia, à qual espero que o novo Papa também possa aderir.Enfim, espero que guiados pelo papa Bento XVI os teólogos possam encontrar termos novos para oferecer nossa fé de maneira aceitável ao mundo moderno, e compreensível para o homem comum.Ofereço estas minhas esperanças ao novo Papa.
do cardeal

do cardeal

UMA BÊNÇÃO PARA TODOS NÓS
do cardeal Theodore Edgar McCarrick
arcebispo de Washington
Creio que possamos ficar realmente contentes com o fato de o Senhor nos ter doado este novo Papa, Bento XVI. Considero que o fato de o conclave ter-se concluído tão velozmente se deva ao quanto esse homem nos impressionou não apenas pela maneira como rezou por nosso amado santo padre João Paulo II; não apenas pelas maneiras humildes, gentis, afáveis, mas cheias de bondade e dignidade, com que desempenhou sua função de decano do Sacro Colégio nos dias entre a morte do Santo Padre e o conclave; mas também porque, estando com ele, começamos a lembrar todas as coisas extraordinárias que ele fez pela Igre­ja nos últimos vinte e cinco anos ao lado do Santo Padre. Ele desempenhou de maneira esplêndida o papel de teólogo do Santo Padre e de guardião da doutrina da fé, que era tão importante para João Paulo II e para todos nós.
Com sua sabedoria, ele e o Santo Padre formavam um grande time que trabalhou pelo bem da Igreja e para guiar os fiéis. Acredito que ele – como nos lembrávamos, ao vê-lo e escutá-lo – não é apenas um grande teólogo, mas um homem de fé.Lembro-me de ter lido seus livros espirituais, seus livros de meditação, livros que não apenas revelam sua sabedoria e sua inteligência, mas também sua humildade, sua piedade e sua bondade.Assim, quando escolhemos o novo Papa, o primeiro a ser eleito no terceiro milênio, vimo-nos na presença de um homem que nos havia impressionado pela maneira como nos guiara durante três semanas, e que nos fez lembrar, com sua bondade e sua santidade, os dons extraordinários que dera à Igreja em todos os anos de sua proximidade com o papa João Paulo II.No mundo de hoje, ele parece ter a força e a graça necessárias para nos guiar no tempo que virá. Esse é o motivo pelo qual todos acreditamos que o Espírito Santo nos disse: eis o vosso homem, esco­lhei-o, segui-o e alegrai-vos, pois eu vos dei esse guia que será pastor para vós; sede fiéis a ele tal como procurastes sê-lo a seus predecessores.Nos Estados Unidos, existe este costume: o novo presidente, logo depois de eleito, faz um discurso à União no qual explica suas posições, sua visão do presente estado das coisas e seus projetos para o futuro. Acredito que o Santo Padre, com grande visão, tenha feito o mesmo em sua primeira homilia, em 20 de abril.Não pode tê-la preparado muito tempo antes, pois não tinha como saber que se tornaria Papa; mas foi como se o Espírito Santo lhe tivesse dito: “Dize a eles do que a Igreja precisa em seu caminho”. E aí estão todas as coisas que ele apontou, especialmente sua vontade de se basear no trabalho do Concílio Vaticano II, de se basear naqueles grandes documentos.Sempre tivemos consciência de que João Paulo II foi um dos grandes padres do Concílio e de que nele teve um papel de primeiro plano, da mesma forma como o cardeal Ratzinger, papa Bento XVI, também assumiu um papel de grande importância, enquanto um dos maiores teólogos do Concílio.Como fomos afortunados por ter dois homens que sabem interpretar o Concílio de maneira autêntica, e guiar-nos de maneira autêntica a seguir seus grandes ensinamentos, suas grandes graças, suas grandes visões!Considero, portanto, que somos afortunados por ter este grande homem.Às vezes, a mídia fornece interpretações sobre as pessoas, e o cardeal Ratzinger foi descrito em muitos momentos como um homem duro, forte, um homem que não trabalha com os outros (essa certamente não foi a posição de 30Dias!). Bem, nas três semanas em que vivemos com ele, notamos sua colegialidade, sua atitude de colaborador, sua vontade de trabalhar em grupo e sua afabilidade: ele tem uma grande gentileza e uma grande humildade na sua maneira de se relacionar com seus irmãos cardeais.Devemos agradecer a Deus por tê-lo como papa, e peço que o Senhor continue a abençoá-lo em sua tarefa de guia do grande rebanho desta grande Igreja Católica nos anos que temos pela frente.O Papa nos explicou que escolheu o nome Bento porque o papa Bento XV foi um homem que traba­lhou pela paz e pela reconciliação dos povos do mundo, lacerado pela terrível Primeira Guerra Mundial. Depois disse que o escolheu porque São Bento foi um dos grandes patronos da Europa, Europa que hoje deve se unir para percorrer o caminho correto nos anos que hão de vir.Quando ouvi esse nome, pensei que é “Benedictus” porque será uma bênção para a Igreja e para todos nós. Não que ele tenha pretendido sê-lo. Ele o será. Será uma bênção para nós neste momento tão crítico para a vida da Igreja e do mundo.

Desmond Connell

Desmond Connell

COMPAIXÃO E COMPREENSÃO MARAVILHOSAS
do cardeal Desmond Connell
arcebispo emérito de Dublin
A eleição de Bento XVI me deixou uma ótima impressão.
Após o anúncio do cardeal Medina, algumas pessoas provavelmente se perguntaram se o cardeal Ratzinger, agora Bento XVI, é um pastor ou um teólogo, ou, talvez, até um homem distante do contato com as pessoas comuns. O que vimos a partir de sua eleição demonstra que ele é um verdadeiro pastor.Fiquei muito impressionado com sua homilia no dia da inauguração de seu ministério, em particular pelo uso da imagem do deserto. Muita gente, por vários motivos, inclusive a pobreza e o abandono, vive no deserto da sociedade secular moderna. Pareceu-me que nas palavras do Santo Padre tenha havido uma maravilhosa compaixão e compreensão do sofrimento das pessoas no mundo moderno. Vi o Papa abrir seu coração ao sofrimento.Impressionaram-me muito também as questões que lhe são caras. Está ansioso para desenvolver a colegialidade. Acredito que isso tenha suscitado certa surpresa, mas está claro que ele deseja encontrar um caminho para fazer progredir aquilo que interessava ao Concílio Vaticano II. Está claro que, como João Paulo II, ele é um homem do Concílio Vaticano II, que quer infundir na Igreja o pensamento daquele Concílio.São-lhe também muito caras a paz e a reconciliação no mundo. Ele está seguindo o exemplo de seu predecessor, Bento XV, o qual, durante a Primeira Guerra Mundial, deu os primeiros grandes passos da Santa Sé na busca da paz e da reconciliação necessárias para tornar a vida vivível.Papa Bento XVI está também muito empenhado no desenvolvimento da missão ecumênica da Igreja, uma vez que ela é parte fundamental da busca da unidade pela qual Cristo rezou durante a Última Ceia. São estes alguns de meus primeiros pensamentos a seu respeito.

José da Cruz Policarpo

José da Cruz Policarpo

Bento XVI, a mensagem
de um nome

do cardeal José da Cruz Policarpo
patriarca de Lisboa
Joseph Ratzinger era dos cardeais mais conhecidos. A exigente responsabilidade da missão que exerceu, à frente da Congregação da Doutrina da Fé, pô-lo no centro de todas as questões vivas da criatividade teológica, sempre à busca da síntese entre a fé da Igreja e as culturas e problemas do mundo contemporâneo. Nessa missão, soube conciliar a abertura dialogante com a firmeza na afirmação da fé da Igreja. Não foi poupado a apreciações críticas que, unilateralmente mediatizadas, tendiam a definir-lhe uma imagem.
A sua eleição põe à Igreja e ao mundo um dilema: vamos classificar um pontificado, apenas iniciado, a partir de uma imagem mediatizada, não completa e nem sempre exacta, ou vamos acolher a mudança, no início de um pontificado, que só o Espírito de Deus desenvolverá?
Essa mudança fizemo-la comovidamente, nós os cardeais eleitores, naquele momento com que passámos de um acto eleitoral, em que ele era um de nós, para nos inclinarmos diante dele, com reverência e fé, prometendo-lhe fidelidade e obediência, porque ele era o Pastor que, através do nosso voto, Deus acabava de pôr à frente da sua Igre­ja.
A sua capacidade de nos surpreender, revelou-se logo no nome que escolheu: Bento. No dia da morte de João Paulo II tinha estado em Subiaco, santuário de S. Bento, padroeiro e grande evangelizador da Europa. Na grande crise de civilização que se seguiu à queda do Império Romano, a Igreja mostrou que, em termos de evangelização da Europa, é sempre possível começar de novo, porque Jesus Cristo encerra uma esperança que acaba por traçar o sentido último da vida e da civilização. E a vontade de desenvolver a dimensão missionária da Igreja é um traço histórico do pontificado de Bento XV, no início do século XX, que inspirou a escolha deste nome. O novo Papa quis logo explicar, aos cardeais reunidos na capela Sistina que a figura e ação de Bento XV inspiraram-lhe a escolha deste nome. Bento XV foi o Papa da missão, o papa da paz, um homem que lançou pontes.São Bento, padroeiro da Europa e a inspiração nesse grande Papa que foi Bento XV, levaram o novo Pontífice a escolher um nome que significa um projecto de Igreja, servidora do homem e mestra da humanidade, porque sacramento de Jesus Cristo.Na sua primeira homilia, no dia a seguir à sua eleição, o novo Papa traçou decididamente o caminho a percorrer, nestes novos tempos de missão: o aprofundamento do Concílio Vaticano II; unidade dos cristãos, caminho a percorrer porventura com “gestos concretos que penetrem nos espíritos e movam as consciências”; diálogo inter-religioso e inter-cultural; colaboração com quantos conduzem os destinos do mundo, na busca da paz e da edificação de um mundo de rosto humano.Bento XV indicou o Concílio Vaticano II “como bussola na qual orienta-se”e evidenciou sua vontade de prosseguir no empenho para a atuação do Concílio Vaticano II”. O Vaticano II foi uma mudança tão grande, uma síntese tão definitiva em todos os campos do pensamento eclesiológico, que ainda há muitos aspectos a serem aprofundados e desenvolvidos, não no sentido teórico, mas na intenção de obter todas as consequências de ação e de atitude pastoral da Igreja no mundo contemporâneo. Por exemplo, do ponto de vista doutrinal, há alguns pontos que podem ser levados adiante, como o do desenvolvimento da categoria de Igreja como sinal de salvação. A palavra “sinal” é uma palavra ligada à natureza sacramental da Igreja: dizer que a Igreja é, em todo o seu ser, em toda a sua realidade histórica, um sinal para o mundo, ainda deve ser desenvolvido. Assim como dizer que a Igreja deve ler os sinais dos tempos, deve ser aberta à história da humanidade interpretando com sabedoria tudo o que a realidade humana é, e discernindo nela aquilo que pode ser sinal do reino de Deus.Portanto que Bento XVI tenha apostado no desenvolvimento do Vaticano II, até suas últimas consequências, é muito importante. E se as mudanças forem possíveis e necessárias em algum ponto da pastoral - interpretando sabiamente tudo o que é a realidade humana e exprimindo a bondade e a misericórdia da Igreja - ele, pela sua histórica autoridade e conhecimento das questões mais delicadas inerentes à vida da Igreja, é, sem dúvida, a pessoa mais indicada para fazê-lo.Bento XVI deixa escancaradas todas as portas abertas por João Paulo II, dizendo ao mundo que a Igreja existe para bem da humanidade. O desafio da Evangelização! É, certamente, o contributo decisivo da Igreja para o futuro da história da humanidade.
Cormac Murphy-O’Connor

Cormac Murphy-O’Connor

OS DESAFIOS
E AS OPORTUNIDADES
DO MUNDO MODERNO
do cardeal Cormac Murphy-O’Connor
arcebispo de Westminster
Se vocês me perguntarem o que penso do novo Pontífice, confessarei que estou muito satisfeito, muito tranqüilo.
É estranh


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